Economia
04:07

Joesley Batista discute taxação de 50% sobre carne brasileira com Trump

O empresário Joesley Batista reuniu-se com o presidente americano Donald Trump na condição de empresário e acionista da J&F, dona da JBS, para tratar da taxação de 50% imposta pela Casa Branca à carne brasileira exportada para os Estados Unidos, onde a multinacional brasileira tem negócios.

O encontro ocorreu no início de setembro. Joesley, que também atua no ramo de celulose por meio da Eldorado, conversou sobre o setor de carnes, que não foi poupado por Trump da sobretaxa de 40% que acrescentou aos 10% de “tarifa recíproca” apresentada em abril.

A informação sobre o encontro foi publicada pela Folha de São Paulo e confirmada por duas fontes ouvidas pelo GLOBO. Consultada, a JBS não confirmou a informação.

Metade da receita global da empresa controlada pela família Batista vem dos EUA. A companhia começou a negociar suas ações na Bolsa de Nova York recentemente e vai investir US$ 835 milhões (quase R$ 4,5 bilhões) este ano em fábricas de linguiça e bacon.

Além disso, a Pilgrim’s, grande produtora de carne de frango americana que foi comprada dos americanos pela JBS, foi uma das principais doadoras da campanha de Trump, desembolsando US$ 5 milhões (R$ 26,8 milhões).

Todo esse peso da empresa brasileira nos EUA credenciou Joesley para o encontro, num momento delicado das relações diplomáticas e comerciais entre Brasil e Estados Unidos por causa da sobretaxa de produtos brasileiros que entram no mercado americano, exceto quase 700 itens de uma lista de exceções, da qual a carne não faz parte.

A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro e a crítica de Trump ao julgamento dele no Supremo Tribunal Federal (STF) agravaram o distanciamento e geraram um impasse, que pode ser quebrado na semana que vem se for confirmada uma conversa entre Lula e o presidente americano, que surpreendeu ao anunciar uma reunião com o brasileiro na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) na terça-feira.

Joesley também apareceu em fotos nas redes sociais do empreendedor João Carlos Camargo, presidente do Esfera Brasil, que, junto com outros empresários, foi visitar políticos e autoridades do comércio americano com a mesma intenção de destravar o diálogo entre as duas nações e reverter o tarifaço.

Camargo contou em suas redes sociais que ele, Joesley e o empresário Lirio Parisotto e Carlos Sanchez, da farmacêutica EMS, além de José Felix, sócio da Ballard Partners, jantaram com Mauricio Claver-Carone, principal conselheiro de Trump para a América Latina, e com Byron Donalds, que já anunciou sua candidatura ao governo da Flórida nas eleições do ano que vem.

“Nosso objetivo é claro: estreitar os laços históricos entre Brasil e Estados Unidos, reduzir tarifas e retomar um diálogo amistoso que, ao longo de mais de 200 anos, sempre marcou a parceria entre nossas nações”, escreveu Camargo.

A pressão de empresários brasileiros junto a deputados, autoridades do comércio e associações de classe, segundo interlocutores, contribuiu para que o presidente Donald Trump decidisse dialogar e propusesse uma conversa com Lula. Joesley chegou inclusive a circular no Congresso americano, já que a JBS também fez doações de campanha a alguns parlamentares. Nesse sentido, o encontro dele com Trump também foi importante para a reabertura do diálogo, na visão das pessoas ouvidas.

Além da importância da JBS para os EUA, a fabricante de aviões brasileira Embraer engrossou a pauta dos empresários brasileiros em Washington, revelando a intenção de fazer investimentos nos EUA, que podem chegar a US$ 1 bilhão (R$ 5,36 bilhões), além da possibilidade de movimentar outros US$ 21 bilhões (R$ 12,5 bilhões) até 2030, em negócios.

Os mesmos interlocutores afirmam que a importância de alguns produtos brasileiros para os americanos (especialmente carne e café) mostrou que as negociações entre os dois países precisam acontecer no contexto comercial e não político.

Os EUA não produzem café e a carne brasileira é complementar à produção americana para a fabricação de hambúrgueres. Sem os produtos brasileiros, haverá pressão sobre a inflação americana, já que a produção de carne bovina está em baixa, o que vai na contramão do desejo de Trump de redução dos juros na maior economia do mundo.

No caso da JBS, as exportações de carne bovina do Brasil para os EUA representam pouco mais de 1% da receita da unidade brasileira. Mas a operação da JBS USA tem muita importância por lá. Pelo menos 50% da receita global da empresa (em 2024, ela foi de R$ 417 bilhões) é gerada naquele país.

A importância dos EUA para a JBS é tão grande que a empresa começou a negociar recentemente suas ações na Bolsa de Nova York para ampliar sua base de investidores.

Só neste ano, a companhia está investindo US$ 835 milhões (R$ 4,5 bilhões) nos EUA. O mais novo aporte foi anunciado recentemente, num investimento de US$ 100 milhões (R$ 536 milhões) na construção de uma nova fábrica de bacon e linguiça no estado de Iowa, com a criação de mais 400 empregos em 2026. A unidade foi comprada pela JBS da Ankeny.

A atuação da JBS nos EUA conta ainda com a JBS Beef (de carne bovina), JBS Pork (de carne suína), a JBS Prepared Foods (de processados), além da Pilgrim’s USA, que produz carne de frango e foi comprada dos americanos quando estava em decadência.

O quartel general da JBS nos Estados Unidos fica na cidade de Greeley, no Colorado, mas há unidades em várias partes do país, que empregam mais de 75 mil pessoas — de um total de quase 280 mil empregados que a empresa tem pelo mundo.

Créditos: O Globo

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