Economia
16:05

Joesley Batista se reúne com Trump antes de gesto ao governo Lula na ONU

O empresário Joesley Batista, co-proprietário da JBS, teve uma audiência com o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, semanas antes do republicano fazer um aceno ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Assembleia-Geral da ONU.

Conforme relatos de quatro fontes à Folha, há cerca de três semanas, Joesley discutiu com Trump na Casa Branca sobre a tarifa de 50% imposta pelos EUA a produtos brasileiros, que impacta o setor de carnes. Outro tema abordado foi a importação de celulose pelos Estados Unidos.

Durante o encontro, Joesley sugeriu que as diferenças comerciais entre os dois países poderiam ser solucionadas com diálogo entre os governos, incentivando uma maior aproximação.

Procurada pela reportagem, a JBS não comentou as questões levantadas. A Casa Branca não respondeu ao pedido de posicionamento.

Conforme revelou a Folha, grandes empresários brasileiros favoreceram o contato entre os governos de Lula e Trump. Na Assembleia da ONU, Trump declarou que houve “química” entre ele e Lula e que eles devem se reunir em breve para tratar do tema das tarifas.

Empresas como Embraer, com participação governamental, e a JBS, dos irmãos Wesley e Joesley Batista, atuaram para fortalecer dentro do governo Trump o grupo que defendia negociações focadas no comércio, afastando discussões políticas entre EUA e Brasil.

A aproximação da JBS com Trump começou no início do segundo mandato do republicano. A marca Pilgrim’s Pride, ligada à JBS, fez a maior doação empresarial para a posse de Trump, no valor de US$ 5 milhões, segundo relatório da Comissão Federal Eleitoral dos EUA. A empresa é uma das maiores produtoras de aves do mundo, responsável por quase 1 em cada 6 frangos consumidos no país.

A carne bovina do Brasil sofre uma tarifa de 50% imposta pelos EUA, mas interlocutores demonstram otimismo quanto à possibilidade de isenção desse imposto. Sobre a celulose, após a reunião, Trump retirou em 5 de setembro a tarifa de 10% que incidia sobre esse produto importado, benefício importante para a indústria brasileira, que exportou 2,8 milhões de toneladas para os EUA no ano anterior, correspondendo a cerca de 15% das vendas externas brasileiras de celulose.

Com essa reunião, Joesley firmou sua posição como o empresário brasileiro com melhor acesso ao presidente americano, segundo diferentes fontes.

Outros empresários também visitaram Washington na semana de 11 de setembro para negociar as tarifas, integrando uma comitiva que incluía João Camargo, presidente do conselho da Esfera Brasil, e Carlos Sanchez, da EMS.

Eles tiveram encontros no Congresso com parlamentares republicanos, inclusive Maria Elvira Salazar, deputada próxima ao secretário de Estado Marco Rubio, e membros da equipe de Trump. Uma parte do grupo se reuniu ainda com Susie Wiles, chefe de gabinete do presidente americano e principal assessora do republicano.

Na semana anterior, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) esteve em Washington para negociar com representantes do governo americano, incluindo o vice-secretário de Estado Christopher Landau, o Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR) e o Departamento de Comércio. Os empresários também acionaram grupos de lobby especializados com acesso direto ao governo dos EUA.

Créditos: Folha de S.Paulo

Modo Noturno