Líder do Comando Vermelho Doca escapa após operação policial no Rio
André Lyra de Oliveira, conhecido como Lápis, estava na comunidade do Quitungo, no bairro Brás de Pina, zona norte do Rio, quando foi morto por dois homens armados.
Ele morreu no local por volta das três da manhã do dia 16 de setembro de 2021.
De acordo com a polícia, a ordem para a execução do crime partiu de Edgar Alves de Andrade, o Doca, principal líder do Comando Vermelho (CV) em liberdade, estando diretamente abaixo de Marcinho VP e Fernandinho Beira-Mar, que estão presos em penitenciárias federais.
Doca era o principal alvo da Operação Contenção, realizada pelas polícias do Rio de Janeiro na terça-feira (28/10) nos complexos do Alemão e da Penha, considerada a operação policial mais letal da história do país.
No entanto, ele conseguiu fugir.
Com mandado de prisão preventiva decretado antes da operação, Doca era um dos alvos das forças policiais fluminenses.
Segundo Victor Santos, secretário de Segurança Pública do Rio, Doca empregou “soldados” do tráfico para criar uma barreira e escapar da operação. O Disque Denúncia do Rio oferece R$ 100 mil para informações que levem à sua captura.
“O Doca não foi preso nesse primeiro momento porque é uma estratégia que eles usam”, afirmou Santos em entrevista à GloboNews, explicando que deixar soldados para serem presos dificulta a captura dos líderes.
De acordo com sua ficha criminal, Doca nasceu em 1970 em Caiçara — há divergências sobre se Caiçara é no Rio Grande do Sul ou na Paraíba.
Ele está envolvido com o crime há pelo menos 20 anos. Em 2007, foi preso em flagrante por porte de arma e tráfico de drogas na vila da Penha. Na ocasião, alegou ser militar. Posteriormente, conseguiu progressão de pena e passou para o regime semiaberto.
Já foragido, Doca assumiu papel de liderança no Comando Vermelho, gerenciando recursos da facção, especialmente na Vila da Penha, e ordenando ações, como o assassinato de André Lyra de Andrade.
A motivação para o homicídio de Lápis foi disputa territorial na zona norte do Rio, onde milícias e o Comando Vermelho aumentaram o confronto. Em 2020, o Terceiro Comando da Capital (TCP) fechou parceria com a milícia do Quitungo para venda velada de drogas, área de interesse do CV, nas proximidades do Complexo da Penha.
Em março de 2020, membros do TCP provocaram o CV com vídeos gravados dentro da Vila Cruzeiro. Em outubro, os confrontos se agravaram com ataques na região. O CV respondeu oferecendo recompensas para quem matasse seus rivais, sendo Lápis um dos alvos.
Como líder do CV, Doca é apontado como um dos responsáveis pela expansão da facção, que entre 2022 e 2023 aumentou em 8,4% suas áreas de controle, retomando a liderança dos grupos armados na Região Metropolitana do Rio, atendendo por 51,9% das áreas dominadas.
Este conflito entre milícias e facções resultou na morte equivocada de três médicos na Barra da Tijuca, em outubro de 2023: Diego Ralf Bomfim, Marcos de Andrade Corsato e Perseu Ribeiro Almeida. Os criminosos confundiram Perseu com filho de um miliciano. Segundo a polícia, a autorização para esses assassinatos partiu de Doca, que, ao perceber o erro, ordenou a execução dos envolvidos.
A ficha criminal de Doca, extensa, com 189 páginas até 2023, registra 176 anotações, incluindo tráfico de drogas, associação criminosa, roubos, homicídios, tortura e porte ilegal de armas.
Em dezembro de 2020, Doca foi acusado de autorizar o homicídio de três crianças em Belford Roxo, que foram torturadas e mortas após desentendimento com chefe do tráfico local.
Investigações também indicam que Doca participou da compra e uso de drones lançadores de granada, usados contra policiais na operação de 28/10, tecnologia empregada pela primeira vez em ação contra milicianos na zona norte do Rio.
Além disso, Doca está ligado ao caso do deputado estadual Tiego Raimundo dos Santos, conhecido como TH Joias, preso em 2025 acusado de tráfico, intermediação de armas para facções e lavagem de dinheiro. Segundo investigações, TH Joias atuava como intermediário entre chefes do tráfico e o poder público, relatando encontros com Doca e outras lideranças para fechar negócios.
Créditos: BBC