Lula alerta para catástrofe humanitária em possível intervenção dos EUA na Venezuela
Durante a Cúpula do Mercosul em Foz do Iguaçu, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que uma intervenção militar dos Estados Unidos na Venezuela provocaria uma “catástrofe humanitária” para o Hemisfério Sul e geraria precedentes perigosos mundialmente.
Ele ressaltou que, após mais de 40 anos da Guerra das Malvinas, a América do Sul testemunha novamente a presença militar de uma potência extrarregional, testando os limites do direito internacional. Lula descreveu a intervenção armada na Venezuela como um grave risco.
A crescente tensão entre EUA e Venezuela, com ameaças diretas de ataque militar feitas pelo presidente americano Donald Trump, preocupa o governo brasileiro devido ao risco de crise humanitária na fronteira e desordem no país vizinho, conforme reportado pela BBC News Brasil.
Em 16 de dezembro, Trump afirmou nas redes sociais que os EUA imporiam um bloqueio naval a navios petroleiros venezuelanos sujeitos a sanções internacionais, descrevendo a Venezuela como totalmente cercada pela maior força naval já reunida na região. Recentemente, os EUA aprenderam um navio petroleiro venezuelano.
O receio brasileiro é que uma queda rápida do presidente Nicolás Maduro cause caos social, cenário que, segundo uma fonte do governo ouvida reservadamente, impede um ataque direto dos EUA até o momento. Ela compara a situação com a instabilidade que seguiu as intervenções na Líbia e no Iraque, onde a derrubada de líderes gerou guerras civis.
A estratégia dos EUA tem sido focar ações que sufocam financeiramente a Venezuela, principalmente dificultando a exportação de petróleo, principal fonte de receita do país.
Lula discutiu a situação com Trump por telefone em duas ocasiões, a mais recente em 2 de dezembro, tentando convencê-lo dos riscos e defendendo o diálogo como caminho mais eficiente e menos custoso que o uso da força.
O governo brasileiro teme que qualquer intervenção militar americana provoque instabilidade na Venezuela e uma crise humanitária na fronteira, especialmente em Roraima, onde já há mais de 125 mil imigrantes venezuelanos acolhidos desde 2018 por uma operação humanitária brasileira.
Ainda segundo interlocutores de Lula, uma eventual queda abrupta de Maduro poderia gerar um vácuo de poder incerto sobre quem assumiria o controle do país.
Lula manteve também contato telefônico com Nicolás Maduro na semana anterior, seu primeiro diálogo direto desde 2024, ano das recentes eleições presidenciais venezuelanas, cujo resultado brasileiro ainda não reconhece.
O Palácio do Planalto entende que o Brasil está bem posicionado para mediar a crise, mantendo diálogo com líderes da Venezuela e dos Estados Unidos, embora não tenha se oferecido formalmente para essa mediação nem discutido asilo político a Maduro.
A operação militar americana no Caribe iniciou em agosto com envio de forças aéreas e navais, incluindo um submarino nuclear e aeronaves de reconhecimento. Desde setembro, ataques aéreos foram lançados contra embarcações na costa venezuelana sob o argumento de combater o tráfico de drogas, resultando em cerca de 80 mortes. O governo dos EUA acusa Maduro de enviar drogas à América, o que é negado pelo presidente venezuelano.
O contingente militar dos EUA inclui porta-aviões, navios destroyer e embarcações de desembarque capazes de transportar milhares de soldados. Imagens de satélite detectaram pelo menos seis embarcações militares na região em dezembro, incluindo o USS Gerald R. Ford, o maior porta-aviões americano, que operava próximo à República Dominicana e Porto Rico.
Diante da escalada, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, telefonou para Maduro pedindo “desescalada imediata” e “contenção” para preservar a estabilidade regional, conforme comunicado oficial da organização.
Créditos: BBC News Brasil