Lula destaca Venezuela, UE e democracia na 67ª Cúpula do Mercosul
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugurou na manhã deste sábado (20/12), em Foz do Iguaçu (PR), a 67ª Cúpula dos Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados, reunindo os presidentes da Argentina, Javier Milei; do Paraguai, Santiago Peña; e do Uruguai, Yamandú Orsi. O evento simboliza a passagem da presidência pro tempore do bloco do Brasil ao Paraguai.
No discurso de abertura, Lula destacou alguns avanços do Mercosul durante o último semestre sob a presidência brasileira. Contudo, dedicou grande parte da fala, que durou pouco mais de 10 minutos, para abordar as operações militares dos Estados Unidos na costa venezuelana, a defesa da democracia e do multilateralismo, além do adiamento da assinatura do acordo comercial com a União Europeia. Esse acordo, inicialmente previsto para ser assinado em Foz do Iguaçu, foi postergado para janeiro, atendendo ao pedido da Itália.
Lula expressou sua frustração por não presidir a cerimônia de assinatura, que abriria um mercado consumidor de mais de 700 milhões de pessoas, mas se mostrou otimista quanto à resolução do impasse causado pela primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni. Ela solicitou mais tempo para negociar com o setor do agronegócio italiano salvaguardas que protejam a produção interna da competição com produtos sul-americanos.
Durante a abertura, o presidente afirmou que o Mercosul seguirá buscando novos mercados e acordos comerciais, destacando que a diversificação de parcerias é essencial para a resiliência econômica. O bloco atualmente conduz mais de 10 negociações com países e blocos externos, que podem ser concluídas durante a gestão paraguaia.
“Espero que tenhamos seis meses de bons resultados, com acordos internacionais bem-sucedidos. O mundo está disposto a fazer negócios com o Mercosul, e certamente alcançaremos os acordos que não foram possíveis na minha presidência”, declarou Lula.
O presidente também ressaltou a crise entre Estados Unidos e Venezuela, país que faz fronteira com o Brasil, como um tema prioritário. Para ele, a verdadeira ameaça à soberania nacional não vem da integração regional, mas sim de guerras, forças antidemocráticas e do crime organizado.
Lula recordou que desde a Guerra das Malvinas, nos anos 1980, não se via uma ameaça real de intervenção militar estrangeira na América do Sul. A menção se refere à presença de navios e aviões de combate norte-americanos no Caribe, que bloqueiam embarcações com destino ou origem na Venezuela.
“Após mais de quatro décadas, a América do Sul enfrenta novamente a presença militar de uma potência extrarregional. Os limites do direito internacional estão sendo testados. Uma intervenção armada na Venezuela resultaria em uma catástrofe humanitária para o Hemisfério Sul e um precedente perigoso para o mundo”, alertou o presidente.
Além disso, Lula enfatizou que as democracias estão sendo atacadas e pressionadas. Citou o Brasil como exemplo, que resistiu a uma tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023. Ele afirmou que os responsáveis foram investigados, julgados e condenados de acordo com o processo legal, destacando que o país acertou as contas com seu passado pela primeira vez em sua história.
Defendendo as instituições democráticas, disse que enfraquecê-las abre espaço para o crime organizado. O Mercosul decidiu combater de forma conjunta o crime organizado transnacional, abordando o tráfico de drogas e a recuperação de ativos ilícitos.
“A liberdade é a primeira vítima em um mundo sem regras”, ressaltou Lula, que pretende propor um encontro entre ministros da Justiça e da Segurança Pública dos países vizinhos para intensificar a cooperação regional nesse tema.
Por fim, o presidente mencionou o aumento dos casos de feminicídio na América Latina ao tratar de segurança pública. Segundo a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), a região é a mais letal do mundo para mulheres, com uma média de 11 assassinatos diários.
Créditos: Correio Braziliense