Massacre em El-Fasher no Sudão persiste com execuções e condenações internacionais
Imagens de satélite confirmam que os massacres em El-Fasher, Sudão, continuam após a tomada da cidade pelas Forças de Apoio Rápido (FAR). O grupo paramilitar controla a região desde o último domingo, quando expulsou o Exército sudanês do último bastião em Darfur.
Autoridades europeias classificam a situação como “apocalíptica” e a maior crise humanitária atual. O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, disse que as FAR prometeram proteger civis, mas serão responsabilizadas pelas ações ocorridas.
Em conferência no Bahrein, Wadephul esteve ao lado de seus pares da Jordânia e do Reino Unido, que também condenaram o conflito. A representante britânica, Yvette Cooper, detalhou que Londres destinará US$ 6,6 milhões em ajuda humanitária ao Sudão e já suporta o país com 120 milhões de libras.
Cooper descreveu os relatos como relatos horríveis, com atrocidades, execuções em massa, fome e uso do estupro como arma de guerra, afetando principalmente mulheres e crianças.
A captura de El-Fasher ocorreu após um cerco de 18 meses que deteriorou as condições da população, deixando-a em estado de fome. A região de Darfur já foi palco de genocídio há 20 anos.
Os líderes militares, Abdel Fatah al-Burhan, comandante do Exército, e Mohammed Hamdan Dagalo, líder das FAR, romperam antigas alianças devido a divergências políticas e militares.
Desde a queda da cidade, surgiram denúncias de execuções sumárias, violência sexual, sequestros e saques. O Exército relata a morte de 2 mil pessoas devido às ações dos milicianos. Sobreviventes que chegaram a Tawila, cerca de 70 km de El-Fasher, confirmaram assassinatos em massa e confrontos, com restrições nas comunicações da região.
Depoimentos de moradores revelam extrema violência. Uma mãe contou que seu filho de 16 anos foi executado por combatentes das FAR após uma revista em sua casa.
Um relatório do Laboratório de Investigação Humanitária da Escola de Saúde Pública de Yale aponta que a maior parte da população pode estar morta, sequestrada ou escondida, pois não há indícios de fuga em massa. O relatório identificou 31 locais na cidade que indicam a presença de corpos, e imagens de 27 de outubro exibem evidências de assassinatos em massa.
A organização Médicos Sem Fronteiras expressou apreensão com a situação e questiona o paradeiro dos desaparecidos, suspeitando que muitos tenham morrido ou sido capturados.
Segundo a ONU, cerca de 65 mil pessoas fugiram da cidade, mas dezenas de milhares permanecem retidas. Antes do conflito final, a população local era de aproximadamente 260 mil.
As FAR divulgaram que prenderam militantes acusados de crimes e afirmaram estar investigando as ações para responsabilizar os envolvidos, incluindo um comandante reconhecido em vídeos executando civis.
Contudo, oficiais da ONU duvidam da real intenção das FAR de investigar tais crimes e pedem restrições de armamento ao grupo. Relatórios indicam apoio das forças estrangeiras ao conflito, com armas e drones dos Emirados Árabes Unidos para os paramilitares e auxílio do Egito, Irã, Arábia Saudita e Turquia ao Exército. Também há movimentação de mercenários colombianos e do grupo russo Wagner.
Tanto as FAR, descendentes das milícias Janjaweed acusadas de genocídio há duas décadas, quanto o Exército enfrentam acusações de crimes de guerra desde o início do conflito.
O controle das FAR sobre as principais cidades de Darfur divide o Sudão entre o eixo leste-oeste, com o Exército dominando norte, leste e centro. A violência começa a se estender para a região vizinha de Kordofan, com relatos de novas atrocidades em larga escala.
Créditos: O Globo