Megaoperação no Rio deixa mais de 120 mortos em Penha e Alemão
Um dos mortos na megaoperação policial que resultou em mais de 120 óbitos no Rio foi Jean Alex Santos Campos, de 17 anos, que se despediu do avô com a frase “vou me cuidar, pai. Te amo”. A ação, realizada na terça-feira pelas polícias Civil e Militar, foi a mais letal da história do estado e teve como alvo os complexos da Penha e do Alemão, dominados pelo Comando Vermelho.
Moradores levaram diversos corpos para uma praça, onde foram identificados sinais de tortura. Parentes enfrentam dificuldades para reconhecimento e liberação dos corpos devido ao grande número de vítimas.
No Complexo da Penha, um homem de 63 anos, que criou Jean Alex como filho, relatou que não conseguiu ver o corpo do jovem, pois ele já havia sido removido pelo rabecão. Ele disse que o filho era bom instrumentista e gostava de jogar futebol, mas lamentou que a comunidade acaba perdendo jovens para o crime, sofrendo uma perda dupla: quando eles entram para o crime e quando morrem.
O homem contou que falou pela última vez com Jean Alex às 4 horas da madrugada de terça-feira, quando o jovem se despediu enviando um coração. Posteriormente, um amigo dele o viu sendo detido e o corpo foi encontrado em uma área de mata.
Outra mulher relatou que, apesar de não ser parente das vítimas, foi ao local para prestar solidariedade. Ela afirmou que nunca havia visto uma cena como aquela, com corpos exibindo sinais de tortura, incluindo mutilações como ausência de cabeça e dedos, e perguntas sobre a justiça do governador diante da situação.
Parentes de vítimas começaram o processo de documentação para reconhecimento dos corpos no Instituto Médico-Legal (IML) Afrânio Peixoto, no Centro do Rio.
Carol Malícia, moradora de Arraial do Cabo, contou que viu o corpo de Victor, pai de sua filha pequena, no chão da praça no Complexo da Penha, apresentando perfuração no peito e ferimentos na cabeça e perna. O corpo poderá ser liberado somente daqui a alguns dias. Victor tinha ligação com o Comando Vermelho.
Desde a noite anterior, voluntários e familiares removem corpos da área de mata Vacaria para a Praça do Inter, no Complexo da Penha.
A megaoperação contou com 2,5 mil policiais, promotores do Gaeco, drones, helicópteros, blindados terrestres e veículos de demolição, cumprindo 51 mandados de prisão contra integrantes do tráfico. Até o meio da manhã de terça-feira, 23 pessoas foram presas e dez fuzis apreendidos.
A ação também deixou dois policiais civis mortos e pelo menos sete agentes feridos. As vítimas e feridos estão sendo encaminhados para unidades médicas, como o Hospital Getúlio Vargas na Penha.
Devido à operação, 45 unidades escolares municipais fecharam as portas. As ruas do Centro do Rio ficaram desertas devido à antecipação do retorno para casa dos moradores.
Os corpos estão sendo levados para o IML do Centro do Rio e também para outras unidades em Campo Grande e Niterói. Familiares foram avisados de que a liberação será demorada por conta do número elevado de vítimas.
Créditos: O Globo