Megapolicial no RJ deixa 121 mortos e marcas nas favelas da Penha e Alemão
A operação policial mais letal da história do Brasil aconteceu nos Complexos da Penha e do Alemão, com 121 pessoas mortas, conforme a Polícia Civil do Rio de Janeiro. Para os moradores dessas favelas, a ação que visava o cumprimento de mais de cem mandados de prisão deixou impactos físicos e psicológicos.
A reportagem percorreu de moto as vielas 9 e 23, além da área de mata onde corpos foram encontrados pelos moradores. Familiares das vítimas não estavam na comunidade, pois participaram de uma manifestação marcada para ocorrer em frente ao palácio do governo.
Nas vielas, foram constatados portões arrombados, vidros quebrados, marcas de tiros e um cachorro morto. Os moradores, que estavam sem luz há 24 horas, relataram que antes de a polícia localizar traficantes em pontos de venda de drogas, houve buscas duras nas casas dos residentes.
Uma moradora, que preferiu não ser identificada, contou que uma senhora que mora sozinha foi acordada por disparos feitos na escada de sua casa. Outro relato mostrou uma casa com a parede externa cheia de marcas de balas, com um tiro atingindo a sala e a queda de uma cachorra de estimação que vivia com a moradora há quatro anos.
Em outra viela, vidros de portas e janelas foram quebrados, e cacos permaneciam no chão. Uma mulher que reside no local disse que ouviu jovens já rendidos pedindo para serem presos enquanto eram levados para a mata, onde teriam sido torturados e assassinados.
Na área da mata, permaneciam roupas, estojos de munição de grosso calibre e manchas de sangue. Moradores informaram que, após uma nova varredura, todos os corpos foram removidos. Foi encontrado um documento de identidade de Wesley Martins e Silva, natural do Pará.
Uma moradora relatou que a polícia invadiu sua casa repentinamente, fazendo insultos, remexendo nos pertences e lançando spray de pimenta. Outros residentes afirmaram que os policiais invadiram as casas afirmando que todos eram traficantes, apesar de haver moradores estudantes, professores, advogados e atletas.
A megaoperação resultou em 121 mortos, incluindo quatro policiais, 113 prisões e dez apreensões de adolescentes, sendo 33 detidos de outros estados.
O número de mortos ultrapassou o do massacre do Carandiru em 1992, que ceifou 111 detentos em 30 minutos.
Os corpos foram removidos da mata para a Praça São Lucas, no Complexo da Penha, com o apoio dos rabecões da Defesa Civil.
A Polícia Civil instaurou inquérito para investigar a remoção dos corpos e possíveis fraudes processuais, já que roupas camufladas encontradas com os mortos foram retiradas. O local não foi isolado para perícia após as mortes.
Os governos estadual e federal anunciaram a formação de um grupo de trabalho para combater o crime organizado, liderado pelo ministro da Justiça e Segurança e pelo governador do Rio.
O Ministério Público do Rio abriu inquérito para apurar a megaoperação, incluindo solicitação das imagens de câmeras corporais dos agentes envolvidos.
Policiais relataram que não conseguiram prender o principal alvo da ação, Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca, devido a barreiras físicas e intenso confronto armado.
Dois homens considerados homens de confiança de Doca foram detidos: Thiago do Nascimento Mendes, apelidado “Belão do Quitungo”, acusado de comandar a facção na Penha e financiar o crime por meio de cobranças ilegais; e Nikolas Fernandes Soares, responsável pelo recolhimento financeiro da facção.
O Disque Denúncia oferece R$ 100 mil por informações que levem à captura de Doca, que é investigado por mais de cem homicídios, mandante do assassinato de médicos, desaparecimento de crianças e tentativa de sequestro de helicóptero, com mais de 20 mandados de prisão em aberto.
Créditos: UOL