Michelle Bolsonaro critica aliança do PL com Ciro Gomes no Ceará
Integrantes do PL relataram que correligionários da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro a aconselharam a não criticar publicamente a aliança formada entre bolsonaristas e Ciro Gomes no Ceará, durante o lançamento da pré-candidatura do senador Eduardo Girão (Novo), no último final de semana. Mesmo assim, Michelle ignorou os pedidos e atacou tanto Ciro Gomes, provável candidato ao governo pelo PSDB, quanto as lideranças do partido que respaldaram o acordo promovido pelo deputado André Fernandes, presidente estadual do PL.
Fontes do PL comentaram que o presidente da legenda, Valdemar da Costa Neto, sentiu-se atingido pelas declarações da ex-primeira-dama, que declarou rejeitar o acordo com Ciro. Ela afirmou: “Fazer aliança com o homem que é contra o maior líder da direita? Isso não dá. Nós vamos nos levantar e trabalhar para eleger o Girão”.
Em função dessas declarações, Michelle, que preside o PL Mulher, foi convocada para uma reunião com a cúpula do partido na tarde de terça-feira, onde deverá ser “enquadrada”, segundo lideranças do PL.
Um membro da cúpula afirmou que Michelle parece não compreender que é funcionária do partido e do presidente Valdemar, e que nem mesmo Bolsonaro se expressa dessa forma, evidenciando a necessidade de disciplina partidária.
Ainda segundo aliados de Valdemar, pouca esperança existe de que Michelle se desculpe ou retrate as falas, classificando-a como alguém que “se acha” e que é “incontrolável”. Um integrante ouvido preferiu dizer que o PL nacional apoia André Fernandes e está cansado das atitudes de Michelle.
Após o desconforto causado, Flávio Bolsonaro comentou à coluna de Igor Gadelha, do Metrópoles, que Michelle é autoritária, revelando o constrangimento do partido diante de sua postura. Ele comentou que Michelle desconsiderou a autoridade do presidente Bolsonaro, que havia autorizado a iniciativa do deputado André Fernandes no Ceará, e que o modo como ela se dirigiu ao deputado, uma das maiores lideranças locais, foi constrangedor e autoritário.
Na terça-feira, Flávio visitaria o pai na prisão para debater o assunto, com a expectativa de que Jair Bolsonaro intervenha para controlar Michelle, caso o partido não consiga.
Depois do episódio, André Fernandes afirmou ao sair do evento de Girão que o apoio a Ciro teve o aval do próprio ex-presidente Bolsonaro. Ele lembrou que, em 29 de maio, Bolsonaro pediu para contatar Ciro Gomes em viva-voz, confirmando o apoio, e que logo depois Valdemar Costa Neto também endossou a decisão.
Um dos objetivos dessa aliança é viabilizar a candidatura do pai de André, o pastor Alcides Fernandes, ao Senado.
Apesar de seu posicionamento público, Michelle já havia manifestado internamente sua oposição ao acordo, chegando a comentar sobre isso em vídeo nas redes sociais, o que motivou membros do PL a pedirem que ela não criticasse Ciro durante o evento.
Ciro Gomes recentemente migrou do PDT para o PSDB e surge como provável candidato para enfrentar o governador Elmano de Freitas (PT), que busca reeleição. O bolsonarismo vê na aliança uma estratégia para tentar derrotar o PT no Ceará.
Segundo o O Globo, as manifestações de Michelle contrárias aos arranjos locais também têm influenciado outros estados, como Santa Catarina e Distrito Federal, mesmo que contrariem as decisões da direção partidária.
Créditos: O Globo