Michelle Bolsonaro desafia PL e acende disputa pelo futuro do bolsonarismo

O recente episódio envolvendo Michelle Bolsonaro e a aproximação entre o PL e Ciro Gomes no Ceará revela interpretações que vão além do superficial.

Diferentemente do clã Bolsonaro, que transita por diferentes partidos e alianças locais conforme a conveniência, Michelle parece seguir uma lógica menos flexível.

Uma hipótese é que ela realmente não compartilhe o mesmo pragmatismo que Jair Bolsonaro e seus filhos desenvolveram ao longo dos anos. Jair Bolsonaro transitou por pelo menos nove partidos até alcançar a presidência, encarando essas mudanças como estratégias para conquistar o poder. Ciro Gomes também tem uma trajetória parecida, passando por vários partidos e adaptando alianças eleitorais quando precisou. Nesse contexto, a política é um movimento constante.

Michelle, por outro lado, pode não se sentir confortável nesse jogo, principalmente por seu aliado actual ter atacado Bolsonaro e seus apoiadores diversas vezes, chegando a chamar parte deles de “nazistas”.

Para quem vive a política como extensão da lealdade familiar, esse tipo de passado pesa mais que qualquer acordo regional.

Outra possibilidade é que Michelle simplesmente não se preocupe com os protocolos internos do PL. O partido é, essencialmente, uma engrenagem do centrão, habituada a formar alianças amplas e pouco ideológicas. Nesse ambiente, ela se configura como uma exceção – uma liderança que se comunica diretamente com o público bolsonarista, sem intermediação ou necessidade de pedir permissão antes de agir.

Há ainda quem interprete sua ação como um teste para uma possível independência política. Michelle estaria avaliando até onde pode se consolidar como a “resistência moral” do bolsonarismo, especialmente enquanto Bolsonaro está preso e seus filhos administram seu legado político. É cedo para afirmar se essa visão vai prevalecer, e as próximas semanas e respostas do PL serão decisivas.

Por enquanto, o que fica claro é que o caso no Ceará expôs uma disputa silenciosa: quem terá a palavra final no futuro do bolsonarismo? Michelle indica que não aceitará ficar de fora, enquanto o partido parece visar outro rumo.

O conflito entre esses dois posicionamentos está apenas começando, e o tempo mostrará quem sairá vencedor.

Créditos: Veja Abril