Milei celebra vitória histórica e amplia maioria na Argentina
O presidente argentino Javier Milei declarou que “uma nova Argentina começou” nesta segunda-feira (27), um dia após seu partido, A Liberdade Avança, conquistar uma vitória expressiva nas eleições legislativas de meio de mandato. A legenda ultrapassou a coalizão da ex-presidente Cristina Kirchner por mais de nove pontos percentuais, alcançando quase 41% dos votos contra 31,6% dos opositores.
Milei destacou que os argentinos escolheram um caminho contrário ao da Venezuela e Cuba, garantindo uma reconfiguração do Congresso nacional. O partido do presidente mais que dobrou sua representação na Câmara dos Deputados, passando de 37 para 92 vagas, e ampliou suas cadeiras no Senado de seis para 19, em um total de 72.
Embora ainda não detenha a maioria absoluta na Câmara, composta por 257 assentos, o resultado abre espaço para que as reformas propostas pelo governo sejam avançadas, já que a legenda obteve mais de um terço dos assentos, número suficiente para vetar derrubadas de vetos presidenciais, obstáculo presente anteriormente.
Para aprovar leis, A Liberdade Avança precisará do apoio de deputados de outros partidos, o que demandará diálogo entre o presidente e outras forças políticas.
A vitória representa um impulso para as reformas estruturais de Milei, focadas em áreas fiscais e trabalhistas, planejadas para a segunda metade de seu mandato, que completará dois anos em dezembro, com os novos deputados empossados a partir de 10 de dezembro.
No primeiro ano e meio de governo, a Argentina conseguiu uma redução significativa da inflação, um dos principais problemas econômicos que dominaram o país em anos recentes, cenário adverso que não foi superado nos governos anteriores da esquerda.
O resultado eleitoral evidencia a crescente rejeição às políticas kirchneristas e peronistas, que governaram por décadas, mas perderam força desde a eleição presidencial de Milei. A província de Buenos Aires, último reduto peronista, que em setembro viu uma derrota de Milei nas eleições locais, agora também demonstrou avanço da direita.
O kirchnerismo esperava usar essa eleição para consolidar sua liderança no peronismo nas próximas eleições presidenciais, mas acumulou mais uma derrota, inclusive com a derrota do governador Axel Kicillof em Buenos Aires, refletindo a perda gradual do poder da frente ligada à ex-presidente Kirchner.
O economista e doutor em relações internacionais Igor Lucena avaliou que a derrota indica um distanciamento do populismo tradicional pela população argentina. Ele ressaltou que o kirchnerismo precisa revisar suas pautas para se manter relevante no cenário nacional.
O professor José Niemeyer, do Ibmec-Rio, observou que apesar da baixa participação eleitoral – 66%, o menor índice desde o retorno da democracia em 1983 – a vitória do partido de Milei confirma que sua agenda tem respaldo popular. Niemeyer também destacou a capacidade do governo de articular apoios e a divisão entre os grupos peronistas e kirchneristas, que enfraqueceu Cristina Kirchner.
Em entrevista à emissora A24, Milei enfatizou a reversão da derrota inicial em Buenos Aires, sinalizando a nova configuração política necessária para negociar as propostas de governo.
O jornal La Nacion reforçou que o kirchnerismo acumulava quatro derrotas consecutivas em eleições legislativas desde 2009, indicando um possível declínio definitivo.
Lucena considerou a vitória como um referendo sobre a gestão liberal de Milei, que vem gerando resultados positivos, citando ainda o forte apoio do governo americano, especialmente do ex-presidente Donald Trump, que concedeu um swap cambial de US$ 20 bilhões para apoiar a moeda argentina, além de prometer captar mais recursos de bancos privados e fundos soberanos.
O economista destacou o significado dessa vitória para a direita na América Latina e sua repercussão em outras eleições regionais, além de reforçar a possibilidade de reeleição de Milei.
Para Niemeyer, o apoio econômico direto do governo Trump foi fundamental para a vitória do libertário, evidenciando a habilidade do governo argentino em articular alianças internacionais. Contudo, ele ressaltou a necessidade de observar se essa aliança se manterá estável devido às complexas escolhas geopolíticas de Trump.
Lucena concluiu que o resultado fortalece Milei para aprofundar suas reformas econômicas, com reflexos positivos nos títulos soberanos e na redução do risco-país, sinalizando um afastamento da Argentina das políticas populistas que marcaram décadas de crises econômicas e empobrecimento.
Créditos: Gazeta do Povo