Milei conquista apoio argentino com 40% dos votos em legislativas
O presidente ultraliberal Javier Milei obteve uma vitória expressiva nas eleições legislativas de meio de mandato, alcançando mais de 40% dos votos, surpreendendo mercado e analistas diante dos recentes ajustes econômicos, rumores de desvalorização e corrida cambial.
Eleitores e analistas atribuíram esse apoio a três fatores principais: a queda da inflação, o temor de um colapso financeiro e um forte repúdio ao peronismo. Juan Salvatori, funcionário administrativo de 52 anos, afirmou que a vitória de Milei traz um pouco de tranquilidade diante da incerteza.
Outro eleitor, Patricio Mejuto, de 37 anos, reconheceu falhas no governo, como problemas na área de aposentadorias e na saúde, mas acredita que ainda há tempo para correções.
O repúdio ao peronismo, que ficou com 31,6% dos votos, foi um elemento decisivo para o resultado. O cientista político Carlos Fara destacou que esse sentimento teve mais peso que os escândalos políticos, a corrida cambial e o desgaste da liderança de Milei. Segundo Fara, a população foi às urnas cansada e desmotivada após o Congresso barrar vetos de Milei a leis importantes.
A abstenção foi alta, cerca de 33%, a maior desde 1983 em um país com voto obrigatório, refletindo esse desgaste. O cientista político Sergio Berensztein criticou a oposição pela falta de autocrítica e por não apresentar propostas melhores para enfrentar a agenda econômica de Milei.
Para Carlos Germano, outro cientista político, muitos setores buscaram mudança porque a oposição não oferecia alternativas novas ao plano econômico vigente.
Apesar das medidas duras do governo, que causaram desemprego, queda salarial e cortes no financiamento de setores como ciência, educação e saúde, os eleitores valorizaram a redução da inflação.
A analista Shila Vilker, da consultoria Trespuntozero, afirmou que a memória traumática da inflação prevalece sobre os efeitos recessivos atuais. Para muitos argentinos, o controle da inflação é algo de enorme valor psicológico, o que justifica o voto de confiança ao presidente.
Além disso, o receio de um colapso financeiro que agrave a inflação também influenciou. O anúncio de uma ajuda bilionária dos Estados Unidos, condicionada pelo ex-presidente Donald Trump ao sucesso eleitoral de Milei, foi considerado um “salva-vidas” oportuno pelo mercado.
Carlos Germano observou que esse apoio americano ajudou a conter a escalada do dólar, que havia entrado em uma espiral acelerada. Embora alguns criticaram a ajuda como interferência, outros a viram positivamente.
Germano conclui que a população aposta em uma mudança em andamento, reconhecendo os erros atuais, mas preferindo essa alternativa ao que já conheciam.
Créditos: Correio do Povo