Internacional
18:11

Milei surpreende com vitória clara nas eleições legislativas da Argentina

O presidente argentino Javier Milei surpreendeu ao vencer com folga as eleições legislativas de domingo (26/10).

Seu partido, La Libertad Avanza (LLA), foi o mais votado, conquistando quase 41% dos votos para renovar metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado, segundo resultados oficiais com quase todas as seções apuradas. A bancada legislativa do partido aumentará a partir de dezembro, quando inicia a segunda metade do mandato presidencial.

Embora ainda sem maioria própria, o governo poderá defender sua agenda no Congresso e buscar acordos com outros partidos para avançar reformas, conforme anunciou Milei. Em seu discurso após a votação, declarou: “Hoje passamos o ponto de inflexão; começa a construção de uma grande Argentina. Nos próximos dois anos, precisamos consolidar o caminho reformista.”

O resultado foi inesperado diante dos desafios enfrentados pelo partido governista, marcado por problemas econômicos e escândalos, como um ajuste fiscal rigoroso que poderia ter custado apoio popular e a necessidade de ajuda do presidente dos EUA, Donald Trump, para sustentar o peso argentino.

Os escândalos envolveram desde uma criptomoeda controversa lançada por Milei, que enfrentou ações judiciais, até a renúncia de um candidato a deputado por ligações com um empresário acusado de tráfico de drogas nos EUA.

Apesar dos problemas, o partido ganhou votos em Buenos Aires, tradicional reduto peronista, e em outras províncias como Santa Fé, Córdoba e Mendoza. Na capital, formou aliança com o Partido Pro, do ex-presidente Mauricio Macri.

Milei tinha sido até recentemente um economista pouco conhecido, com propostas radicais de corte de gastos públicos. A Argentina enfrentava sua terceira crise econômica desde a redemocratização em 1983, com cerca de 40% da população na pobreza.

Apoiado especialmente por jovens atraídos por sua retórica anticorrupção e promessas de prosperidade, ele implementou um plano de austeridade que reduziu a inflação mensal de 25% para quase 2%, diminuiu a pobreza em 10 pontos percentuais no primeiro semestre de 2024 e gerou o primeiro superávit orçamentário em mais de uma década.

No entanto, houve redução da renda real para servidores públicos e aposentados, além de estagnação da atividade econômica.

Analistas consideram que a vitória reflete o desejo da população por uma mudança de rumo, destacando também erros da oposição, que manteve muitos políticos tradicionais e não apresentou propostas claras.

Pesquisa aponta que metade dos eleitores tem menos de 39 anos, segmento que avalia mais positivamente o governo de Milei.

A abstenção foi de 32%, o maior índice em mais de dez anos para eleições legislativas obrigatórias na Argentina.

Com a nova bancada, o partido contará com 101 deputados e 20 senadores, podendo manter vetos presidenciais sobre leis rejeitadas.

O peronismo ficou em segundo lugar com quase 32% dos votos, seguido pela aliança Províncias Unidas, com 7,13%, que busca romper a polarização política.

Milei manifestou disposição para buscar acordos com alguns grupos opositores locais, evitando o kirchnerismo da ex-presidente Cristina Kirchner, condenada por corrupção, o que pode implicar moderação retórica do presidente.

O governador de Buenos Aires e liderança oposicionista Axel Kicillof criticou a comemoração do resultado, afirmando que seis em cada dez argentinos rejeitam o modelo de Milei, e alertou sobre a ajuda recebida dos EUA, que não seria um gesto de caridade, mas um interesse econômico.

Milei ressaltou que o apoio americano ao governo nunca foi tão grande, incluindo uma linha de swap cambial de 20 bilhões de dólares e compra direta de um bilhão de dólares em pesos argentinos pelo Tesouro.

Mesmo com instabilidade cambial antes das eleições, esses recursos ajudaram a evitar uma desvalorização descontrolada da moeda.

Trump condicionou essa ajuda à vitória eleitoral do governo, porém especialistas descartam que esse fator tenha sido decisivo para os votos.

Para eles, o resgate foi relevante para manter a estabilidade cambial e prover alguma segurança econômica ao país, sem um impacto simbólico direto nas urnas.

Créditos: BBC News Brasil

Notícias relacionadas

Modo Noturno