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18:08

MSF denuncia atrocidades e massacres em El Fasher, Sudão

Médicos Sem Fronteiras (MSF) é uma organização humanitária internacional que oferece cuidados de saúde a pessoas afetadas por graves crises humanitárias, além de chamar atenção para as dificuldades enfrentadas pelos pacientes em seus projetos.

A organização atua em contextos de conflitos armados, epidemias, desastres naturais, e situações de migração e deslocamento forçado. Seu trabalho inclui organização de campanhas e acesso a medicamentos essenciais para melhorar o tratamento nos países em que atua.

Recentemente, MSF denunciou as graves atrocidades e assassinatos em massa, tanto indiscriminados quanto étnicos, ocorridos na cidade de El Fasher, no Sudão, e arredores. A organização expressa preocupação quanto ao fato de milhares de pessoas estarem em grave perigo e serem impedidas pelas Forças de Apoio Rápido (RSF) e aliados de chegar a locais seguros, como Tawila, onde MSF opera.

Desde 26 de outubro de 2025, quando El Fasher — capital do estado de Darfur do Norte — foi tomada pelas RSF após 17 meses de cerco e ataques constantes, as equipes de MSF em Tawila, a 60 km da linha de frente, prepararam-se para atender um grande fluxo de deslocados e feridos.

Nos últimos meses, um número significativo de pessoas fugiu para Tawila devido à escalada da violência em El Fasher, cidade que ainda abrigava cerca de 260 mil habitantes até agosto, segundo a ONU. No entanto, apenas cerca de 5 mil conseguiram chegar a Tawila nos últimos cinco dias, conforme agências humanitárias locais. Essas pessoas relataram presenciar massacres e relataram que muitos estão presos, sofrendo torturas, sequestros para resgate, violência sexual e execuções sumárias em El Fasher, cidades próximas e nas rotas de fuga.

Michel Olivier Lacharité, coordenador de emergências de MSF, questiona o paradeiro das pessoas desaparecidas e sugere que, com base nos relatos dos pacientes, provavelmente estão sendo mortas, aprisionadas ou perseguidas ao tentar escapar.

Ele apela às RSF e grupos aliados que preservem os civis e permitam seu deslocamento para áreas seguras, além de solicitar que partes diplomáticas influentes, como EUA, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Egito, atuem para suspender o conflito.

Entre 26 e 28 de outubro, recém-chegados, principalmente mulheres, crianças e idosos com graves níveis de desnutrição, foram transportados a Tawila em caminhões. Outros, incluindo feridos por tiros, viajaram a pé, evitando armados durante o dia e caminhando à noite.

Todas as 70 crianças menores de cinco anos que chegaram a Tawila em 27 de outubro apresentavam desnutrição grave, sendo 57% com desnutrição aguda severa. No dia seguinte, 20% dos 120 homens examinados também apresentaram desnutrição aguda grave. Esses dados evidenciam o sofrimento extremo da população local, cuja fome foi declarada há mais de um ano, aumentando a dependência de ração animal para sobrevivência.

Testemunhas informaram que um grupo de 500 civis, além de soldados das Forças Armadas sudanesas, tentou fugir em 26 de outubro, mas a maioria foi capturada ou morta pelas RSF e aliados. Sobreviventes descreveram separações por sexo, idade ou etnia, e inúmeros reféns permanecem, com resgates exigidos em valores entre 5 milhões e 30 milhões de libras sudanesas (45 a 268 mil reais). Um deles pagou 24 milhões para escapar, e relatos incluem cenas violentas como prisioneiros atropelados por veículos de combatentes.

Entre 26 e 29 de outubro, MSF recebeu 396 feridos e tratou mais de 700 recém-chegados no centro de emergência hospitalar. Os ferimentos mais comuns foram causados por armas de fogo, fraturas, espancamentos e tortura. Alguns pacientes sofrem de infecções e complicações pós-cirúrgicas realizadas em condições precárias, quase sem recursos médicos.

MSF instalou um posto de saúde em Tawila e aumentou os serviços médicos, incluindo cuidados de emergência e cirúrgicos no hospital. Muitos profissionais sudaneses da equipe em Tawila têm familiares desaparecidos ou mortos em El Fasher. Pessoas deslocadas buscam identificar familiares entre os recém-chegados, buscando notícias sobre entes desaparecidos.

A coordenadora-adjunta de emergências da organização, Livia Tampellini, afirma que os sobreviventes necessitam urgentemente de cuidados médicos, apoio nutricional e psicossocial, abrigo, água e assistência humanitária ampla. A organização reforça a urgência em permitir a saída dos civis para áreas seguras e o acesso à ajuda vital.

Créditos: msf

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