Política
21:08

Operação letal no Rio pode fortalecer direita nas eleições de 2026

A Operação Contenção, considerada a mais letal da história do Brasil, rapidamente ganhou conotação política. O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL-RJ), apareceu para celebrar o suposto êxito da ação policial nos complexos da Penha e do Alemão, na zona norte da capital, que resultou em 121 mortos e 113 presos.

Líderes de direita reagiram prontamente ao ocorrido em 28 de novembro, reunindo-se com Castro em duas ocasiões e anunciando o Consórcio da Paz, uma iniciativa para combater o crime organizado. A menos de um ano das eleições, especialistas apontam que a operação pode atrair votos para o campo conservador.

Esse movimento representa um reposicionamento da direita, especialmente após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado. Apesar do apoio popular à ação, ela revive a imagem do Rio de Janeiro como uma cidade marcada pela violência.

Segundo Jacqueline Muniz, professora de segurança pública da UFF, “a matança tem elevada rentabilidade eleitoral. Quanto maior o medo, maior o desejo por uma solução imediata”. Para ela, a cidade há três décadas usa a guerra contra o crime como ferramenta eleitoral, uma estratégia que fortalece o bolsonarismo.

A operação, que teve o Comando Vermelho como alvo, resultou na morte de quatro policiais e não conseguiu capturar Edgar Alves de Andrade, o Doca, líder da facção criminosa. Muniz considera a emboscada ineficaz e fora das normas policiais, mas reconhece a relação histórica entre discursos agressivos e bons resultados eleitorais.

No passado, políticos eleitos no Rio utilizaram esse discurso de enfrentamento radical ao crime, como José Guilherme Godinho, eleito com o lema “bandido bom é bandido morto” e Wilson Witzel, que venceu em 2018 com uma postura militarista.

Essa postura não encontra aceitação só no Rio: em São Paulo, o Coronel Ubiratan, responsável pelo Massacre do Carandiru, tornou-se deputado estadual usando o número 111, equivalente ao número de mortos na chacina.

Frederico Castelo Branco, pesquisador da USP, observa que a operação reflete o punitivismo da sociedade, com 57% dos moradores do Rio aprovando a ação, conforme pesquisa Datafolha. Ele afirma que o episódio é oportunidade para o campo bolsonarista retomar importância política. Castro é cotado para o Senado em 2026, e outros governadores de direita podem disputar a Presidência.

Carolina Grillo, da UFF, concorda que a direita busca rearticulação, agora sem Bolsonaro, e critica a postura do governo federal, que classificou como tímida e sem condenação clara do ocorrido. O governo anunciou o Consórcio da Paz como alternativa, destacando o combate ao crime por inteligência.

O cientista social Daniel Hirata lembra que segurança pública continuará tema central nas eleições, já que a PEC da Segurança não traz respostas concretas. Ele destaca que a adesão popular à violência estatal é ligada a sentimentos de desamparo, racismo e classismo, além de reverberações históricas da escravidão e da ditadura.

Os prejuízos da operação vão além das mortes, impactando negativamente o turismo e a economia, além de reforçar a antiga imagem do Rio como refém do crime, uma percepção forte nos anos 1990.

Antonio Herculano Lopes, pesquisador da Fundação Casa de Rui Barbosa, analisa que a brutalidade é uma constante nas relações sociais da cidade e que há duas formas de lidar com a violência: pela sublimação, que internaliza e representa simbolicamente a violência, e pelo justiçamento, que expressa o desejo por governos truculentos diante do crime fora de controle.

Essa última postura se manifesta no apoio a operações que causam mortes em massa, refletindo o anseio da classe média por afastamento da favela e da pobreza, e pela manutenção do monopólio da violência pelo Estado.

Créditos: Folha de S.Paulo

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