Política
03:08

Operação Sem Desconto atinge senador Weverton e complica governo Lula

A nova fase da Operação Sem Desconto, realizada pela Polícia Federal (PF) na manhã de quinta-feira (18), ampliou o impacto político no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Entre os alvos está o senador Weverton Rocha (PDT-MA), vice-líder do governo no Senado.

A investigação sobre fraudes bilionárias no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) revelou que a empresária Roberta Luchsinger, amiga de Fábio Luís Lula da Silva, filho do presidente, recebeu cinco repasses de R$ 300 mil de Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”.

De acordo com decisão do ministro do STF André Mendonça, os investigados mantinham vínculos estreitos com agentes políticos, especialmente um senador da República, que era considerado “sustentáculo político” do esquema criminoso, ampliando sua influência e blindagem institucional.

Embora o ministro não tenha nomeado o senador, Weverton Rocha é o único parlamentar do Senado citado como alvo de buscas e foi classificado pela PF como parte do núcleo político que viabilizava as ações de Antônio Camilo. O senador negou envolvimento com corrupção, ressaltando que não há provas ligando-o a práticas ilícitas nem ao recebimento de recursos irregulares.

Esse capítulo se soma a outros embaraços enfrentados por Lula, incluindo suspeitas que envolvem familiares, como seu irmão José Ferreira da Silva (Frei Chico) e seu filho Fábio Luís Lula da Silva, além do envolvimento de aliados próximos.

A apuração também abarca o ex-ministro da Previdência Carlos Lupi (PDT) e indicados a cargos estratégicos, destacando esforço do governo para frear a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS.

O inquérito investiga descontos associativos não autorizados em benefícios do INSS por meio de cadastros e movimentações fraudulentas. A atual fase visa aprofundar a investigação sobre a inserção de dados falsos em sistemas oficiais e a atuação de organizações criminosas.

A operação cumpriu 52 mandados de busca e apreensão, 16 de prisão preventiva e outras medidas em estados como São Paulo, Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Minas Gerais e no Distrito Federal.

Weverton Rocha, figura central na articulação do Executivo no Congresso e mediador entre Lula e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, está sob pressão, com buscas realizadas em endereços seus em Brasília e Maranhão. A PF encontrou um arquivo nomeado “Grupo Senador Weverton” que sugere benefício ilícito via interpostas pessoas.

Embora a PF tenha pedido sua prisão, a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifestou contra, alegando ausência de vínculo direto entre o senador e as condutas ilícitas investigadas.

O senador também é relator da indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal (STF), indicação estratégica para Lula, mas que enfrenta resistência significativa no Senado.

Além disso, um secretário-executivo do Ministério da Previdência teve prisão domiciliar decretada, e o titular da pasta, Wolney Queiroz, exonerou o investigado. Também foram cumpridos mandados contra um programador e um ex-assessor de Weverton, citados como elos no esquema criminoso.

Documentos indicam pagamentos de propina ligados a esses envolvidos, com ênfase na atuação do “Careca do INSS”. A CPMI do INSS identificou que o ex-assessor seria alvo frequente de pedidos para prestar esclarecimentos, que chegaram a ser frustrados por base governista.

Segundo o cientista político Paulo Kramer, a operação representa um ativo político para a oposição, com potencial impacto duradouro até a campanha presidencial, aumentando o desgaste do governo e afetando negociações legislativas, como a indicação de Messias ao STF.

O relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar, considerou a operação uma confirmação da efetividade dos trabalhos, ressaltando que a ação reforça a apuração do esquema bilionário e desmonta tentativas de blindagem.

O nome de Fábio Luís da Silva, o Lulinha, volta à discussão pública devido a suspeitas envolvendo viagens internacionais e suposta “mesada do careca do INSS”. A PF investiga cinco pagamentos de R$ 300 mil do “Careca” à empresa de Roberta Luchsinger, que é amiga do filho do presidente.

Diálogos indicam que o recurso teria como destinatário “o filho do rapaz”, sem detalhar a quem se refere. Lulinha não é formalmente investigado, e sua defesa afirma ausência de qualquer relação com os descontos do INSS. A defesa de Roberta nega qualquer vínculo com o esquema.

Frei Chico, irmão do presidente, é citado por sua posição no Sindicato Nacional dos Aposentados (Sindnapi), entidade envolvida nos descontos questionados. Embora não investigado formalmente, sua associação gera desgaste político para Lula.

Para o cientista político Flávio Testa, o avanço das investigações tende a aproximar o governo do escândalo, gerando constrangimento, mas os efeitos podem ser mitigados a curto prazo devido à predominância governista na CPMI e influências institucionais.

Testa destaca ainda que a interrupção das negociações entre direita e centro-direita para 2026 abriu espaço para ofensiva de Lula rumo ao Centrão, com oferta de cargos como instrumento de negociação.

Ele conclui que, apesar dos embates legais e condenações, Lula mantém competitividade eleitoral apoiado em relações favoráveis com o STF e habilidade comunicativa para neutralizar os efeitos da crise.

Créditos: Gazeta do Povo

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