PCC pode estar ligado a casos de intoxicação por metanol em São Paulo, diz associação
A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) aponta que os casos recentes de intoxicação por metanol em decorrência da ingestão de bebidas alcoólicas adulteradas podem ter relação com atividades da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
Em comunicado divulgado no último domingo (28), a ABCF afirmou que o metanol utilizado pelo PCC para adulterar combustível possivelmente foi revendido para destilarias clandestinas, após a operação Carbono Oculto desmantelar um esquema da facção voltado à lavagem de dinheiro no setor de combustíveis.
Seis casos confirmados de intoxicação por metanol ocorreram em São Paulo, resultando em duas mortes, além de outros dez casos em investigação na capital, segundo informações do Centro de Vigilância Sanitária (CVS), vinculado à Secretaria da Saúde do governo estadual.
Segundo a ABCF, o recente fechamento de distribuidoras e fabricantes de combustível ligadas ao crime organizado — que ilegalmente importavam metanol para adulteração de combustíveis, conforme comprovado em investigações do Gaeco e do Ministério Público de São Paulo — pode ter influenciado a atual onda de intoxicações em consumidores que ingeriram bebidas destiladas em bares e casas noturnas.
A associação destacou que, ao terem tanques cheios de metanol bloqueados e distribuição proibida, as quadrilhas podem ter desviado esse insumo para mercados clandestinos de bebidas falsificadas, gerando lucros elevados à custa da saúde pública.
No fim de agosto, uma grande operação cumpriu mandados contra empresas do setor de combustíveis e financeiro ligadas ao PCC, investigando crimes de adulteração, fraude fiscal e lavagem de dinheiro. O metanol desviado chegou a níveis de 90% em alguns postos, ultrapassando o limite oficial de 0,5% estabelecido pela ANP.
O metanol é um produto químico industrial e altamente tóxico, impróprio para consumo humano, podendo causar intoxicação grave e até morte, mesmo em pequenas quantidades. Como sua aparência é semelhante ao álcool comum, ele pode provocar efeitos iniciais como embriaguez e náusea antes dos sintomas mais severos.
A ABCF afirma atuar há anos contra quadrilhas de falsificadores em parceria com polícias de todo o país, mas ressalta que o ingresso de facções criminosas no mercado ilegal trouxe desafios devido à sua estrutura financeira e rede de distribuição, alcançando zonas urbanas de renda média e baixa.
O promotor Yuri Fisberg, do Ministério Público de São Paulo, afirmou que ainda não há comprovação definitiva de que o metanol usado para adulterar bebidas seja o mesmo importado ilegalmente para combustíveis. Ele ressaltou que cada caso deve ser investigado individualmente para rastrear a origem do contaminante.
O CVS recomenda que estabelecimentos redobrem a atenção quanto à procedência das bebidas comercializadas e que a população consuma somente produtos de fabricantes legalizados, com rótulo, lacre de segurança e selo fiscal, para evitar riscos à saúde.
O aumento incomum dos casos de intoxicação detectado pelo Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) de Campinas e encaminhado ao Comitê Técnico do SAR chamou atenção pelo rápido surgimento e pela natureza distinta, pois agora os casos ocorrem em locais de consumo social, como bares, envolvendo bebidas variadas como gim, uísque e vodca. Estes são casos inéditos para o centro toxicológico.
O metanol, produto industrial altamente tóxico, é responsável por intoxicações que têm aumentado recentemente e exigem maior cuidado na vigilância e fiscalização das bebidas comercializadas para prevenir novos incidentes.
Créditos: Folha de S.Paulo