Saúde
20:06

Polícia Federal investiga casos de intoxicação por metanol em São Paulo

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, anunciou em 30 de setembro que a Polícia Federal abriu uma investigação para apurar o aumento de intoxicações por metanol em São Paulo.

Até o momento, foram registrados pelo menos 22 casos envolvendo contaminação por essa substância no estado, com 5 confirmados e 17 em apuração. Cinco mortes são investigadas como suspeitas de estarem relacionadas ao metanol, informou o secretário estadual da Saúde, Eleuses Paiva.

As autoridades suspeitam que as vítimas tenham consumido bebidas alcoólicas contaminadas.

No mesmo dia, a Vigilância Sanitária e a Polícia Civil fecharam dois bares na capital paulista onde as vítimas teriam consumido as bebidas adulteradas: o bar Ministrão, nos Jardins, e o Torres, na Mooca.

Em entrevista, Lewandowski classificou a situação como grave e indicou que a rede de distribuição dessas bebidas pode atuar em outros estados além de São Paulo.

A hipótese de envolvimento do crime organizado também está sendo investigada pela Polícia Federal, segundo informações oficiais.

Até o momento, o estado contabiliza 22 suspeitas, com cinco óbitos relacionados, sendo que apenas um caso tem confirmação de morte por bebida adulterada.

Segundo o governo estadual, todos os envolvidos consumiram as bebidas adulteradas na capital paulista.

Uma força-tarefa fez fiscalização em três bares na capital, nos bairros Jardins e Mooca, apreendendo garrafas sem rótulos.

Uma vítima relatou ao programa Fantástico, da TV Globo, ter perdido a visão após consumir três caipirinhas adquiridas em um dos bares investigados.

Outros relatos apontam perda de visão, convulsões, problemas renais e AVC entre as vítimas.

Os casos relacionados envolveram diferentes tipos de bebidas, como gim, uísque e vodka, comprados em bares e adegas distintas.

Ainda não se sabe se o metanol foi colocado em bebidas falsificadas ou resultou de contaminação durante a produção, mas as autoridades apontam para a primeira possibilidade.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, informou que a polícia civil interditou preventivamente os locais relacionados e investiga a origem das bebidas.

Nos últimos dias, 50 mil garrafas suspeitas foram apreendidas.

Na cidade de Americana, no interior, duas pessoas foram presas por falsificação e adulteração.

A Polícia Federal também iniciou investigação para identificar a origem do metanol utilizado.

Até agora, não há casos suspeitos em outras regiões do país, mas Lewandowski ressaltou a possibilidade de distribuição para além do estado.

A suspeita de envolvimento do crime organizado surgiu após a associação ABCF afirmar que o metanol poderia ser o mesmo importado ilegalmente pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) para adulterar combustíveis.

A ABCF sugeriu que, diante do fechamento de distribuidoras ligadas ao crime, o metanol poderia ter sido repassado para destilarias clandestinas e quadrilhas de falsificadores.

Entretanto, o governo de São Paulo e a Polícia Federal divergem quanto ao envolvimento do PCC.

O diretor-geral da PF disse que a investigação inclui essa possibilidade, considerando conexões com investigações da cadeia de combustíveis.

Já o governador afirmou que não há evidência do envolvimento do crime organizado, destacando que os inquéritos apontam que os responsáveis pelas destilarias clandestinas não têm ligação entre si nem com grupos criminosos.

O secretário da Segurança Pública do estado também descartou essa hipótese.

Diante dos casos, associações do setor foram consultadas para orientar o público quanto à identificação e proteção contra bebidas adulteradas.

O metanol é um produto químico industrial usado em anticongelantes e limpadores, altamente tóxico, não destinado ao consumo humano.

Mesmo pequenas quantidades podem causar efeitos graves e até matar.

Tem aparência e sabor semelhantes ao álcool, provocando inicialmente intoxicação e enjoo, o que dificulta a percepção do perigo.

O dano ocorre quando o corpo metaboliza o metanol, produzindo substâncias tóxicas que atacam nervos e órgãos, podendo causar cegueira, coma e morte.

Especialistas explicam que essas toxinas afetam o cérebro e os olhos de forma grave.

A toxicidade depende da dose e da capacidade do organismo de processar a substância.

Sintomas podem ser vagos inicialmente, o que pode atrasar diagnóstico e tratamento.

O tratamento é uma emergência médica e inclui medicamentos, diálise e uso de álcool etílico para inibir a metabolização do metanol, sempre sob supervisão.

O reconhecimento e atendimento rápido são essenciais para a sobrevivência.

Recentemente, casos semelhantes ocorreram em outros países, como Rússia, Turquia, Laos e Kuwait, com dezenas de mortes e hospitalizações.

Na Rússia, dezenas foram intoxicadas por vodca ilegal, com ao menos 25 mortes.

Na Turquia, centenas foram afetados desde o início de 2025, com ao menos 160 mortes confirmadas.

No Laos, seis turistas morreram após consumir bebidas contaminadas, levando ao fechamento de fábricas e proibição de algumas marcas locais.

*Reportagem de Michelle Roberts, editora digital de saúde da BBC News.

Créditos: BBC News Brasil

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