Rodrigo Bacellar é preso pela PF por suspeita de vazamento em operação contra TH Joias
O presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), deputado estadual Rodrigo Bacellar (União Brasil), deve passar a noite desta quarta-feira (3) na Superintendência da Polícia Federal, localizada na Zona Portuária do Rio.
Bacellar foi preso nesta quarta-feira pela Polícia Federal (PF) durante a Operação Unha e Carne. A PF o investiga sob suspeita de ter vazado informações sigilosas da Operação Zargun, realizada em setembro, que resultou na prisão do então deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias.
Também nesta quarta, a PF apreendeu R$ 90 mil no carro utilizado por Bacellar para chegar à superintendência.
O superintendente da PF no Rio, Fábio Galvão, comunicou Bacellar por meio de um convite para uma reunião na manhã desta quarta. Bacellar compareceu e foi preso no local, onde seu celular também foi apreendido.
A Operação Zargun teve como alvo Thiego Raimundo dos Santos Silva, preso por tráfico de drogas, corrupção e lavagem de dinheiro, além da suspeita de negociar armas com o Comando Vermelho (CV). Thiego assumiu o mandato em junho, mas perdeu o cargo após sua prisão.
A prisão de Bacellar foi determinada por um mandado expedido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que também ordenou o afastamento dele da presidência da Alerj.
Na decisão, Moraes ressaltou a existência de “fortes indícios” de que Bacellar participa de uma organização criminosa. Segundo o trecho obtido pela reportagem, Bacellar estaria atuando ativamente para obstruir investigações relacionadas a uma facção criminosa, com influência no Poder Executivo Estadual.
Registros mostram que, em 2 de setembro, véspera da Operação Zargun, Bacellar teria telefonado para TH Joias para avisar sobre a iminência dos mandados contra ele e o orientou a destruir provas. TH chegou a organizar uma mudança e usou um caminhão-baú para isso.
Bacellar foi preso no interior da Superintendência da Polícia Federal na Praça Mauá, após ter sido convidado pelo superintendente Fábio Galvão. No momento da chegada, Bacellar recebeu voz de prisão e teve seu celular apreendido. TH Joias também seria levado para prestar depoimento.
Em sua decisão, Moraes afirmou que os fatos indicam que Bacellar estaria obstruindo investigações e fortalecendo o risco de ação continuada e interferência indevida nas apurações contra a organização criminosa.
Até a última atualização, a Assembleia Legislativa do Rio ainda não havia se manifestado sobre a prisão.
Bruno Borragini, advogado de Bacellar, declarou que a prisão é “totalmente desproporcional” e que o deputado não praticou nenhuma conduta ativa para obstruir investigações.
O procurador-geral de Justiça do RJ, Antonio José Campos Moreira, já havia levantado a suspeita de vazamento na época da Operação Zargun, mencionando a dificuldade em localizar TH.
Na data da operação, TH não foi encontrado em sua residência na Barra da Tijuca e só foi localizado horas depois na casa de um amigo no mesmo bairro.
Além do mandado contra Bacellar, Moraes também expediu oito mandados de busca e apreensão, incluindo o gabinete do deputado na Alerj, e outras medidas cautelares diferentes da prisão.
A ação integra uma determinação do STF para que a Polícia Federal investigue a atuação de grupos criminosos violentos no estado e suas conexões com agentes públicos.
A Operação Zargun cumpriu 18 mandados de prisão preventiva, 22 de busca e apreensão e sequestrou bens avaliados em R$ 40 milhões. A investigação contou com a Delegacia de Repressão à Entorpecentes da PF e o Ministério Público Federal.
As apurações apontam um esquema de corrupção envolvendo TH Joias, lideranças do Comando Vermelho, agentes públicos, incluindo delegados da PF, policiais militares e ex-secretários.
A organização criminosa infiltrava-se na administração pública para garantir impunidade e acesso a informações sigilosas, além da importação de armas do Paraguai e equipamentos antidrone da China, revendidos até para facções rivais.
Os investigados respondem por organização criminosa, tráfico internacional de armas e drogas, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.
Paralelamente, na Operação Bandeirante, o Ministério Público do Rio denunciou TH Joias e outras quatro pessoas por associação para tráfico de drogas e comércio ilegal de armas de uso restrito.
De acordo com a denúncia, o grupo mantinha vínculos estáveis com o Comando Vermelho e atuava nos complexos da Maré, Alemão e Parada de Lucas.
Esses integrantes são acusados de mediar a compra e venda de drogas, armas e equipamentos antidrones, dificultando operações policiais nos territórios controlados pela facção, além de movimentar recursos em espécie para financiar a organização.
A ação penal obteve quatro mandados de prisão e cinco de busca e apreensão cumpridos em endereços na Barra da Tijuca, Freguesia e Copacabana.
TH Joias assumiu o mandato na Alerj em junho do ano anterior após a morte de Otoni de Paula Pai e a recusa de Rafael Picciani em assumir a vaga. Posteriormente, Picciani retomou o cargo, sendo exonerado da Secretaria Estadual de Esporte e Lazer pelo governador Cláudio Castro para voltar à Assembleia Legislativa.
A Polícia Federal considera que as investigações convergentes envolvendo TH, a facção criminosa e agentes públicos revelam um esquema que garantia impunidade e acesso privilegiado à organização criminosa.
Créditos: g1