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Rodrigo Bacellar passa de reeleito unânime a preso em dez meses no Rio

Rodrigo Bacellar, presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), teve uma rápida ascensão política, mas foi preso em menos de um ano após sua reeleição unânime.

Após receber todos os votos para a presidência da Alerj, um feito inédito, Bacellar explicou aos jornalistas os acordos que garantiram seu apoio tanto da esquerda quanto da direita. Na ocasião, também manifestou pela primeira vez seu interesse em disputar o Palácio Guanabara no ano seguinte. Recentemente, Bacellar chegou a governar o Estado do Rio interinamente durante a ausência do governador Cláudio Castro, que estava no Peru.

No entanto, ele já era considerado foragido desde que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), expediu ordem de prisão contra ele, cumprida na sede da Polícia Federal, dez meses após sua reeleição.

Sua trajetória política começou em 2018, quando foi eleito deputado pela primeira vez. Natural de Campos dos Goytacazes, Bacellar vem de uma família influente da política local. No primeiro mandato, ganhou relevância com o então presidente da Assembleia, André Ceciliano, tornando-se relator de projetos importantes, incluindo a soltura de deputados presos na operação Furna da Onça e o processo de impeachment do ex-governador Wilson Witzel.

Já na gestão de Cláudio Castro, Bacellar conquistou cargos relevantes, incluindo a Secretaria de Governo, e indicou diversos nomes para o primeiro escalão.

Segundo investigações do Ministério Público Eleitoral, Bacellar teria articulado um esquema de contratações irregulares focado nas eleições de 2022 pela Ceperj, que envolvia funcionários fantasmas pagos em dinheiro vivo. Ele, o governador Castro e outros políticos respondem a processos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), podendo ter seus mandatos cassados. Todos negam as acusações.

Nas eleições seguintes, Bacellar foi reeleito deputado pelo Partido Liberal e venceu a disputa para presidente da Alerj mesmo enfrentando resistência dentro do próprio partido e da base governista. Essa vitória ampliou sua influência, permitindo inclusive indicar o chefe da Polícia Civil, o que gerou conflito com o governo.

Bacellar também criou vínculos com famílias tradicionais da política fluminense, como Cabral, Picciani e Melo.

Inicialmente, sonhava em ser conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), cargo vitalício para o qual trabalhou anteriormente como advogado. Mas seu foco mudou ao assumir maior protagonismo na política do Rio.

No fim do ano passado, ele buscou a reeleição unânime da presidência da Alerj, objetivo considerado improvável, mas alcançado com o total apoio dos 70 deputados.

Especialistas destacam que o poder de Bacellar não derivava de uma longa carreira eleitoral ou capital pessoal, mas de sua capacidade de controlar mecanismos essenciais da política local, como orçamento, cargos e acordos com prefeitos.

Em fevereiro, Bacellar iniciou sua campanha para o governo, conseguindo que o então vice-governador Thiago Pampolha desistisse de concorrer e aceitasse uma vaga no TCE. Isso o colocou na linha de sucessão imediata ao governador.

Ele percorreu o interior do estado em campanha informal, aproximou-se da família Bolsonaro e foi reconhecido publicamente por Castro como seu possível sucessor. Chegou a assumir o governo do Estado em julho durante uma viagem do governador, conduzindo agendas principalmente focadas em segurança pública.

Porém, após demitir Washington Reis da Secretaria de Transportes sem consultar o governador, Bacellar rompeu com Castro e perdeu apoio com aliados importantes, entre eles os Bolsonaro e líderes locais.

No último fim de semana, voltou a assumir o comando do Estado, mais por acaso do que por reconciliação com Castro, cujo distanciamento se aprofundou com o sucesso de uma operação policial no Complexo do Alemão.

Bacellar ainda demonstrava interesse em seguir na vida política, planejando distribuir recursos a prefeitos por meio do parlamento estadual e visando uma possível vaga no TCE em 2026. Contudo, nenhum dos deputados manifestou apoio público a ele recentemente.

Além dessas acusações, o Ministério Público investiga a evolução patrimonial e negócios de Bacellar, incluindo suspeitas sobre um frigorífico em Campos dos Goytacazes em que ele seria sócio oculto. Ele também aluga uma cobertura por um valor abaixo do mercado. Bacellar nega enriquecimento ilícito.

Créditos: O Globo

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