Rússia reafirma apoio à Venezuela frente a bloqueio americano a petroleiros
Nesta segunda-feira (22), a Rússia reiterou seu “total apoio” à Venezuela diante do bloqueio imposto pelos Estados Unidos ao trânsito dos navios petroleiros que entram e saem do país, além da série de apreensões de embarcações próximas à costa venezuelana ocorridas nos últimos dias.
De acordo com o chanceler venezuelano, Lavrov declarou que a Rússia também fornecerá “todo o respaldo” às iniciativas da Venezuela no Conselho de Segurança da ONU.
Com essa posição, a Rússia soma-se à China, que no mesmo dia confirmou seu suporte ao governo Maduro perante a onda de apreensões de navios petroleiros nas proximidades da Venezuela. Ambos países são aliados importantes do regime venezuelano.
Antes, a Rússia havia prometido auxiliar a Venezuela contra a escalada militar e as tensões promovidas pela administração Trump, mas sem detalhar as formas desse apoio. A chancelaria russa alertou na semana passada que os conflitos entre EUA e Venezuela podem causar “consequências imprevisíveis” para o Ocidente. Contudo, a Casa Branca declarou que a Rússia está limitada a um apoio retórico devido à guerra na Ucrânia.
No domingo, agências noticiaram que os EUA interceptaram o terceiro navio petroleiro próximo à costa venezuelana. Até a última atualização deste texto, o governo Trump não se manifestou publicamente sobre a ação.
Segundo a Bloomberg, o navio, chamado Bella 1, está sob controle de forças americanas; já a Reuters indicou que o navio está sendo perseguido e interceptado, porém a abordagem ainda não teria sido concluída.
De acordo com a Bloomberg, o petroleiro operava sob bandeira panamenha e seguia para a Venezuela para ser carregado. Um oficial norte-americano disse à Reuters que o navio está sob sanções e navegava com bandeira falsa, observando que interceptações podem ocorrer de diversas formas, como navegar ou sobrevoar próximos ao alvo.
Outro oficial relatou à Reuters que o petroleiro interceptado no domingo estava sob sanções econômicas, em conformidade com o “bloqueio total” anunciado pelo presidente Donald Trump. Entretanto, o navio apreendido no sábado não constava na lista de sanções dos EUA.
Pouco após a notícia da interceptação, Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, declarou que o país vive uma “campanha de agressão, terrorismo psicológico e corsários que assaltam petroleiros”. Não está claro se essa fala se refere diretamente à ação americana do domingo.
Além do Bella 1, os EUA apreenderam o petroleiro Centuries no sábado (20) e, em 10 de dezembro, o Skipper.
Recentemente, Donald Trump anunciou um bloqueio contra todos os petroleiros sancionados que entram ou saem da Venezuela, medida vista por analistas como uma intensificação das ameaças americanas.
O governo venezuelano não se pronunciou sobre a interceptação do domingo até a última atualização. Anteriormente, qualificou o bloqueio americano como uma “ameaça grotesca”, “absolutamente irracional” e “pirataria internacional”, prometendo que as apreensões “não ficarão impunes”.
As apreensões fazem parte da pressão dos EUA contra o regime Maduro, que também inclui mobilização militar no Caribe, sobrevoos venezuelanos e ataques a embarcações. Essas ações visam estrangular a economia venezuelana, central para o governo Maduro, agravando as tensões bilaterais.
A Venezuela possui as maiores reservas de petróleo comprovadas do mundo, cerca de 303 bilhões de barris, conforme a Energy Information Administration (EIA). Esse volume supera Arábia Saudita e Irã, entretanto, grande parte do petróleo venezuelano é extra-pesado, exigindo tecnologia avançada e altos investimentos para exploração.
Os Estados Unidos têm interesse claro, pois o petróleo pesado venezuelano é adequado para as refinarias norte-americanas especialmente na Costa do Golfo.
Assim, a estratégia do governo Trump busca fortalecer a economia americana enquanto pressiona a produção e exportação venezuelanas, alvo crucial para a sustentação do governo Maduro.
Consequências iniciais já são observadas. A Bloomberg reportou que Caracas enfrenta dificuldades para armazenar petróleo, em meio a tentativas de Washington de impedir que navios atracarem ou deixem portos venezuelanos.
Desde a imposição de sanções ao setor energético da Venezuela em 2019, compradores passaram a usar uma frota de navios-tanque que ocultam localização e empregam embarcações sancionadas para transportar petróleo do Irã ou Rússia.
A China é a maior consumidora do petróleo venezuelano, responsável por cerca de 4% de suas importações, com embarques estimados para superar 600 mil barris por dia em dezembro.
Caso o embargo persista, a retirada de quase um milhão de barris diários do mercado pode elevar os preços do petróleo.
As ações contra os petroleiros ocorrem paralelamente às ordens de Trump para que o Departamento de Defesa realize ataques contra embarcações no Caribe e Pacífico suspeitas de contrabando de fentanil e outras drogas.
Desde setembro, 28 ataques conhecidos causaram pelo menos 104 mortes.
A chefe de gabinete da Casa Branca, Susie Wiles, afirmou em entrevista que Trump tem intenção de “continuar explodindo barcos até Maduro se render”.
Créditos: Globo