Saída de Jorge Messias do governo cria vazio no diálogo com evangélicos
A indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal (STF), aprovada por líderes religiosos, gerou uma lacuna no governo Lula em sua comunicação com o segmento evangélico. Messias, atualmente advogado-geral da União, tem desempenhado um papel fundamental como ligação entre o Executivo, a Frente Parlamentar Evangélica e importantes igrejas como a Assembleia de Deus.
Desde o início do terceiro mandato de Lula, Messias tem sido o porta-voz do Planalto em eventos religiosos, incluindo a Marcha para Jesus, a maior manifestação evangélica do país que tradicionalmente conta com discursos de políticos conservadores. Ele sempre entregou aos líderes da manifestação cartas do presidente Lula, apesar de ter enfrentado vaias em 2023, retornando no ano seguinte.
A saída de Messias do governo para o STF deixou uma lacuna difícil de ser preenchida por outro integrante do primeiro escalão com a mesma influência, mesmo com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, também evangélica. Caso abordagens alternativas foram tentadas, como o envolvimento da primeira-dama Janja da Silva com líderes evangélicos progressistas vinculados à Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, mas estas são denominações de menor porte e mais politizadas.
Petistas cogitam não centralizar a comunicação com o meio evangélico em um único nome até o final do mandato. Entre os nomes cotados para essa função estão Gleisi Hoffmann, ministra de Relações Institucionais, e Alexandre Padilha, ministro da Saúde. Gleisi tem se envolvido em reuniões com pastores e avalia estratégias para manter o diálogo com o segmento.
Messias também mobilizou seu capital religioso para tentar diminuir resistências no Senado quanto à sua aprovação no STF. Recentemente, ele articulou um encontro entre Lula e o bispo Samuel Ferreira, da Assembleia de Deus do Brás, além de participar da convenção nacional da igreja, ao lado do ministro do STF André Mendonça, evangélico apoiador de sua nomeação.
Líderes evangélicos, como o bispo Robson Rodovalho, da Sara Nossa Terra, avaliam positivamente sua ida ao STF, reconhecendo sua competência e compromisso com pautas evangélicas. O bispo Samuel Ferreira destacou também a aprovação de leis importantes, como a que impede vínculo empregatício entre igrejas e membros e a que proíbe o uso de linguagem neutra em eventos oficiais.
Apesar de alguns líderes admitirem que a função exercida por Messias será difícil de replicar, há uma percepção de que o momento representa uma oportunidade para o governo desenvolver uma nova estratégia de comunicação mais próxima das bases evangélicas, e não apenas dos líderes das grandes igrejas.
Assim, o governo Lula segue em busca de alternativas para manter seu canal de diálogo com os evangélicos em meio à transição provocada pela saída de Messias para o STF.
Créditos: O Globo