Saúde
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São Paulo confirma segunda morte por intoxicação com metanol em bebidas

O governo de São Paulo confirmou neste sábado (4/10) a segunda morte causada pelo consumo de bebida adulterada com metanol, uma substância química utilizada industrialmente e presente em solventes e combustíveis.

Até o momento, o estado contabiliza 14 casos confirmados de intoxicação por metanol, tóxico e impróprio para consumo humano, incluindo as duas mortes confirmadas. As vítimas fatais são dois homens, de 46 e 54 anos, moradores da capital.

Além disso, o governo investiga 148 outros casos suspeitos, com sete mortes em apuração — quatro em São Paulo, duas em São Bernardo do Campo e uma em Cajuru.

A Polícia Civil de São Paulo investiga se as bebidas eram falsificadas ou adulteradas, ou se o metanol foi utilizado na higienização dos produtos.

No Brasil, até o sábado à tarde, havia 195 notificações de intoxicação por metanol após ingestão de bebida alcoólica, das quais 181 ainda estão em investigação.

Por ser incolor e com odor semelhante ao etanol, o metanol não pode ser identificado facilmente em bebidas alcoólicas, motivo pelo qual a recomendação é evitar completamente o consumo de destilados.

Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Araraquara desenvolveram uma técnica inovadora, há três anos, capaz de identificar rápida, simples e economicamente se amostras de gasolina, etanol e bebidas como cachaça, vodca ou uísque contêm metanol acima dos limites permitidos.

Diferente da cromatografia gasosa tradicional, que é cara e demorada, o método da Unesp apresenta resultados em minutos sem exigir equipamentos sofisticados.

O processo ocorre em duas fases: inicialmente, adiciona-se um sal à amostra para transformar o metanol em formol, depois um ácido que altera a cor da solução em cerca de 15 minutos para bebidas alcoólicas e 25 para gasolina.

As cores obtidas indicam concentrações de metanol, que variam do verde (ausência significativa) até azul-marinho (50% a 100%).

Os pesquisadores esperam viabilizar kits de baixo custo para essa análise, com preço estimado em torno de R$ 10.

Larissa Modesto, mestranda que liderou a pesquisa, afirma que o uso em larga escala é factível, mas depende de investimentos para que empresas comercializem kits baseados na patente da Unesp.

Especialistas independentes veem a inovação como uma ferramenta importante para detectar metanol em bebidas falsificadas, desde que precise e confiável.

A engenheira química Márcia Ângela Nori destaca que essa tecnologia poderia ser fundamental para proteção do consumidor, ressaltando a importância da compra de bebidas de fontes confiáveis e com rastreamento.

Fabio Rodrigues, pesquisador da USP, acrescenta que o princípio químico do teste é adequado, mas que é necessário avaliar custos, produção em escala e possíveis falsos positivos.

O projeto possui duas patentes registradas no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e negocia com setores público e privado para produzir os kits.

O metanol é extremamente tóxico, podendo causar cegueira e morte em doses elevadas. A legislação brasileira limita sua presença a 0,5% em combustíveis e até 20 mg por 100 ml em bebidas destiladas.

Após ingestão, o metanol é rapidamente absorvido e metabolizado no fígado, resultando em tóxicos que afetam o sistema nervoso, podendo levar à acidose metabólica e falência múltipla dos órgãos.

O tratamento hospitalar inclui administração de etanol farmacêutico para impedir a formação dos metabólitos tóxicos, frequentemente associado à hemodiálise para acelerar a eliminação do metanol.

Outra opção é o uso do fomepizol, medicamento específico para intoxicação por metanol, ainda não disponível no Brasil.

No sábado, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou a compra de 2,5 mil unidades de fomepizol junto à Organização Panamericana de Saúde, com previsão de chegada na próxima semana. Também serão adquiridas 12 mil unidades de etanol farmacêutico para tratamento.

As informações são de Thais Carrança e Luiz Fernando Toledo.

Créditos: BBC

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