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21:06

Senado dos EUA rejeita tarifa de Trump sobre produtos brasileiros

Por 52 votos a 48, o Senado dos EUA derrubou, no início da noite de hoje, a emergência econômica nacional que o presidente Donald Trump havia determinado, impondo uma tarifa de 40% sobre produtos brasileiros importados pelo país a partir de 6 de agosto de 2025. Somada aos 10% das “tarifas recíprocas”, o total da sobretaxa sobre produtos do Brasil chega a 50%. Contudo, essa decisão dos senadores não tem efeito imediato sobre as tarifas.

A maioria dos parlamentares entendeu que o presidente Trump ultrapassou seus poderes constitucionais ao aplicar essa sobretaxa, justificando que o Brasil promovia uma espécie de caça às bruxas contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e desrespeitava a liberdade de expressão, além dos interesses financeiros das big techs americanas, por meio de decisões do Supremo Tribunal Federal brasileiro.

O senador Tim Kaine, democrata da Virgínia e um dos autores da resolução, declarou que “as pessoas estão sofrendo” e ressaltou que “americanos não deveriam pagar mais pelo café matinal ou pelo hambúrguer”, lembrando que boa parte dos grãos de café e da proteína bovina consumidos nos EUA são provenientes do Brasil.

Essa decisão representou uma derrota política para Donald Trump, que detém maioria no Senado, mas cinco senadores republicanos desafiaram os interesses do presidente ao votar contra a posição dele.

O projeto de lei contou com apoio bipartidário e foi assinado por senadores como Tim Kaine (democrata da Virgínia), Rand Paul (republicano do Kentucky), líder da minoria Chuck Schumer (democrata de Nova York), Peter Welch (democrata de Vermont), Angus King (independente do Maine), Bernie Sanders (independente de Vermont), Jeanne Shaheen (democrata de New Hampshire), Catherine Cortez Masto (democrata de Nevada), Mark R. Warner (democrata da Virgínia) e Ron Wyden (democrata de Oregon).

Além desse projeto, outras tarifas estavam na pauta dos senadores durante a semana, em meio ao próximo mês do shutdown governamental dos EUA. Democratas planejavam votar taxas sobre o Canadá e outras chamadas “tarifas recíprocas”, que afetam diversas nações, incluindo o Brasil. A intenção era causar mais um revés à agenda econômica de Trump, o que levou o vice-presidente JD Vance a se reunir com senadores republicanos para tentar impedir a votação contra as tarifas.

De acordo com o site Punchbowl News, Vance defendeu a manutenção das tarifas por garantir a Trump “grande poder de barganha” para negociar acordos comerciais com países como o Brasil, e afirmou que seria um “enorme erro” revogá-las. Ele também recebeu críticas sobre a importação de carne da Argentina, anunciada por Trump, devido ao aumento de preços causado pelas tarifas sobre a carne brasileira. Apesar dos argumentos de Vance, os republicanos Rand Paul, Thom Tillis, Lisa Murkowski e Mitch McConnell se uniram aos democratas na votação.

Rand Paul destacou ao site Político que cerca de 10 Estados com muitos produtores rurais têm sido prejudicados pela política tarifária, e que há pelo menos 20 senadores republicanos que deveriam questionar essa política. Paul reforçou que a guerra tarifária com a China reduziu a compra de soja dos EUA por aquele país, que passou a adquirir a commodity apenas do Brasil e da Argentina como pressão contra o governo Trump.

Thom Tillis afirmou que considerava ajudar a derrubar as tarifas sobre o Brasil, destacando preocupação com o superávit comercial entre os países. Ele recebeu senadores brasileiros em Washington em julho, antes da tarifa entrar em vigor, para tratar do tema. Tillis considerou insuficiente a justificativa de Trump envolvendo Bolsonaro e as big techs. Por sua vez, Schumer classificou as razões dadas pelo presidente como “ridículas”. O aumento tarifário de 40% afeta cerca de 60% dos produtos exportados pelo Brasil para os EUA, incluindo café e carne, pressionando a inflação americana.

Embora a votação tenha importância política, é improvável que a resolução contra as tarifas ao Brasil produza efeito prático, já que para valer precisaria ser aprovada pela Câmara dos Representantes, onde nem mesmo haverá votação. Isso ocorre devido a mudanças no regimento interno feitas pela liderança republicana que bloqueiam propostas contrárias às tarifas de Trump.

Em abril, uma proposta semelhante contra taxas impostas ao Canadá foi aprovada no Senado, mas nunca pautada na Câmara. A derrota para Trump acontece enquanto Brasil e EUA iniciam negociações para normalizar a relação comercial após a crise bilateral mais profunda em 200 anos entre os dois países.

Créditos: UOL

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