Internacional
18:07

Sobreviventes de ataque dos EUA no Caribe geram dúvidas sobre operação antidrogas

Dois dos quatro tripulantes de uma embarcação suspeita de transportar drogas sobreviveram ao sexto ataque das forças militares americanas no Caribe.

O ataque ocorreu na quinta-feira (16) e integra a ofensiva do presidente dos EUA, Donald Trump, para frear o tráfico de drogas para o país e aumentar a pressão sobre o governo venezuelano de Nicolás Maduro.

Esse foi o primeiro ataque desse tipo em que nem todos os ocupantes da embarcação foram mortos.

Trump afirmou que o alvo era uma embarcação com “quatro narcoterroristas conhecidos a bordo”. Contudo, Washington não apresentou provas de ligação dos ocupantes com o tráfico de drogas.

Os dois sobreviventes, um equatoriano e um colombiano, foram detidos temporariamente em um navio da Marinha dos EUA e, em seguida, liberados e repatriados.

A libertação deles levantou dúvidas entre especialistas e autoridades.

Nas últimas semanas, ataques americanos no Mar do Caribe causaram dezenas de mortes, e pelo menos sete operações foram relatadas contra embarcações suspeitas de tráfico originárias da Venezuela.

Recentemente, os EUA aumentaram o envio de recursos militares para o Caribe e prometem intensificar ações contra embarcações suspeitas.

Jeison Obando Pérez, 34 anos, foi identificado como o colombiano sobrevivente. O ministro do Interior da Colômbia, Armando Benedetti, afirmou que Obando chegou ao país em estado crítico, com traumatismo craniano, sedado e usando ventilação mecânica.

Benedetti o classificou como “criminoso” e afirmou que ele enfrentará a justiça por tráfico, sem detalhar se havia investigações prévias.

Essa situação ocorre em meio a tensões diplomáticas entre Bogotá e Washington.

O presidente colombiano Gustavo Petro tem sido crítico da estratégia militar americana no Caribe, questionando a narrativa sobre os alvos e acusando os EUA de matar um pescador colombiano que, segundo ele, não tinha vínculos com o narcotráfico.

Petro afirmou que o pescador Alejandro Carranza exercia apenas a atividade de pesca e que o barco estava à deriva com sinal de socorro ligado devido a um motor quebrado.

O presidente colombiano também declarou que o ataque americano violou a soberania da Colômbia em águas territoriais.

Após essas declarações, Trump cancelou ajuda financeira à Colômbia e anunciou aumento de tarifas sobre exportações colombianas.

O ministério do Interior do Equador informou que recebeu um dos sobreviventes, identificado como Andrés Fernando Tufiño Chila, 41 anos, e que ele está sendo avaliado clinicamente. Também afirmou que seguirá o processo legal, sem dar detalhes.

A decisão de liberar os dois sobreviventes ampliou o debate sobre a legalidade e coerência da campanha militar dos EUA no Caribe.

Embora o governo americano classifique os tripulantes como “narcoterroristas” e ameaça à segurança, não apresentou provas concretas das acusações.

Especialistas questionam a justificativa para repatriar sem acusações indivíduos classificados como perigosos o suficiente para serem atacados militarmente.

Jack Goldsmith, ex-funcionário do Departamento de Justiça dos EUA e professor em Harvard, destacou essa contradição.

Fontes próximas ao governo Trump disseram que a libertação foi motivada pela incerteza jurídica para mantê-los sob custódia militar.

Os EUA emitiram parecer jurídico confidencial que autoriza ataques letais contra suspeitos de tráfico, mas historicamente o tráfico é tratado como crime, não como ato de guerra.

Até agora, o Congresso dos EUA não autorizou oficialmente guerra contra cartéis ou “narcoterroristas”.

O governo Trump defende que o presidente tem amplos poderes constitucionais para agir contra essas ameaças, mas legisladores de ambos os partidos expressaram dúvidas sobre essa interpretação.

Créditos: CNN Brasil

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