Tornado devastador no Paraná reforça urgência climática na COP30
Enquanto líderes mundiais debatem em Belém formas de conter o aquecimento global, o Brasil enfrentou, na sexta-feira 7, um evento climático extremo: um tornado atingiu o município de Rio Bonito do Iguaçu, no centro-sul do Paraná, causando destruição e evidenciando que as mudanças climáticas já impactam o país.
Casas foram destruídas, carros arremessados, árvores arrancadas e postes de energia retorcidos. Estimativas do Simepar indicam ventos de até 250 km/h, classificando o tornado entre F2 e F3 na escala Fujita.
Pelo menos seis pessoas morreram e mais de 400 ficaram feridas, informou a Defesa Civil do estado. A área atingida, com cerca de 10 km de extensão, ficou totalmente devastada, situação comparada por moradores a um “bombardeio”.
Márcio Astrini, secretário do Observatório do Clima, afirma que o tornado deveria ser um alerta urgente na COP30, não apenas uma tragédia isolada. Ele lembra que o evento se soma a inúmeros desastres recentes no Brasil e no mundo.
Segundo Astrini, a conferência muitas vezes não reflete a realidade externa, ficando impermeável aos impactos reais no planeta. Destaca que países como o Brasil, cuja economia depende do clima, precisam sensibilizar os negociadores e usar esse episódio como exemplo de urgência, sugerindo que o presidente Lula mencione o tornado na abertura da COP.
Caroline Rocha, diretora do LACLIMA, explica que o tornado é um exemplo do agravamento causado pelo aquecimento global em fenômenos naturais, tornando eventos extremos mais frequentes e intensos. Ela alerta que casos assim vão se repetir ao redor do mundo.
Rocha ressalta que a crise climática amplia desigualdades históricas, afetando principalmente populações vulneráveis, e que é vital acelerar a transição energética e reduzir o uso de combustíveis fósseis. Ela defende um plano claro e verificável para essa transição, pressionando as partes da Convenção do Clima a assumirem compromissos na COP30 ou COP31.
A formação do tornado resultou da combinação de ar quente e úmido do Norte com uma forte frente fria do Sul, criando supercélulas — nuvens rotativas capazes de gerar tornados e granizo. O fenômeno surpreendeu meteorologistas pela intensidade rara na região.
Embora não haja consenso científico sobre a relação direta entre mudanças climáticas e tornados, especialistas apontam que o aquecimento global intensifica condições para tempestades severas, com atmosferas mais quentes retendo maior vapor d’água e energia.
O Brasil tem registrado aumento na frequência e intensidade de desastres climáticos, como ondas de calor recorde, secas na Amazônia e Centro-Oeste, chuvas fortes no Sudeste e fenômenos severos no Sul.
Estados do Sul enfrentam instabilidades com ventos destrutivos e granizo frequentes, associados a um clima mais aquecido e instável. Cientistas destacam que eventos como o tornado de Rio Bonito do Iguaçu evidenciam a vulnerabilidade das cidades, especialmente as menores, que dispõem de pouca infraestrutura e sistemas de alerta.
O desastre no Paraná ocorre enquanto o Brasil tenta se posicionar como líder global na agenda climática na COP30. O episódio funciona como lembrete da necessidade de adaptação e resiliência locais junto à transição climática.
Nos próximos dias serão divulgados relatórios sobre a intensidade do tornado e as condições de sua formação. Independentemente da classificação final, o fenômeno já simboliza um Brasil que sente os efeitos de um planeta em aquecimento.
Créditos: Veja Abril