Trump e Lula abrem caminho para retomada das relações entre Brasil e EUA
O presidente dos EUA, Donald Trump, declarou ter tido uma “química excelente” com Lula da Silva durante um breve encontro nos bastidores da Assembleia-Geral da ONU, que durou 39 segundos. Esse encontro, que poderia ter sido evitado por Trump, incluiu um abraço e abriu a possibilidade de reaproximação nas relações de alto nível entre Brasil e Estados Unidos, que se deterioraram após Trump impor tarifas e sanções ao Brasil para pressionar o país a abandonar o ex-presidente Jair Bolsonaro.
É importante não criar ilusões: essa é apenas uma pequena abertura, que pode se fechar rapidamente devido à imprevisibilidade do presidente americano. Entretanto, se a declaração de Trump for séria, representa uma grande oportunidade para superar meses de tensões e ataques, uma situação quase inédita na história das relações bilaterais.
Lula deve aproveitar essa chance, mesmo diante do risco de eventuais desrespeitos por parte de Trump, como ocorreu com outros líderes. Neste momento, é fundamental que Lula enxergue que interesses pessoais são secundários diante da oportunidade de mostrar a Trump que as bases das decisões americanas para punir o Brasil estão erradas.
Trump justificou as tarifas ao Brasil alegando um suposto superávit comercial brasileiro em relação aos EUA, o que na realidade não é verdade há anos. Além disso, ele pressionou o governo brasileiro a intervir para que o Supremo Tribunal Federal evitasse a prisão de Bolsonaro, algo que é inviável.
Há explicações racionais para o aparente recuo de Trump, como a pressão de empresários americanos afetados pelas tarifas contra produtos brasileiros. Porém, no caso de Trump, buscar explicações racionais muitas vezes é inútil.
O presidente dos EUA já demonstrou que age não por ideologia, mas pela busca de lucro, sem se prender a compromissos institucionais ou diplomáticos. Até o momento, seu segundo mandato tem sido marcado pela satisfação em sair das negociações acreditando ter conseguido vantagens, mesmo que ilusórias.
Assim, Lula deve deixar o orgulho de lado e mostrar disposição real para oferecer propostas aos Estados Unidos. Há oportunidades para negociações em setores como minerais críticos e plataformas digitais. A questão principal é se Lula pensará no interesse do Brasil ou em sua campanha à reeleição.
Essa dúvida é relevante, pois Lula tem conseguido ganhos políticos explorando as ações americanas contra o Brasil, atacando adversários internos e apresentando seu governo como defensor da “soberania” e do “povo”, em contraste com opositores que ele acusa de trair o país e os bolsonaristas que exibiram a bandeira americana na Avenida Paulista no Dia da Independência.
Neste aspecto, enquanto a imprevisibilidade é marca de Trump, Lula é um conhecido na cena política, e se precisar escolher entre agir como estadista ou candidato, dificilmente surpreenderá.
Créditos: Estadão