Trump e Lula podem se reunir na cúpula da Asean para discutir tarifas
Donald Trump confirmou que deve se encontrar com Luiz Inácio Lula da Silva durante uma breve conversa com jornalistas na noite de sexta-feira (24/10).
O presidente dos EUA também indicou estar aberto à possibilidade de reduzir as tarifas impostas recentemente sobre o Brasil.
A entrevista ocorreu a bordo do Air Force One a caminho da Malásia, onde Trump participará de uma cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean).
O presidente brasileiro também estará presente ao evento, e havia informações de que ele poderia aproveitar a ocasião para negociar com Trump sobre as tarifas e sanções.
Quando questionado se a reunião estava confirmada, Trump respondeu que acredita que o encontro deve acontecer. Ele lembrou que os dois se encontraram brevemente durante a Assembleia Geral das Nações Unidas.
Sobre a revisão das tarifas, Trump indicou estar aberto a isso “diante das circunstâncias certas”.
Horas depois, Lula afirmou a jornalistas que vê a possibilidade do encontro com otimismo para buscar uma solução, ressaltando que ainda não há exigências e que ambas as partes levarão os problemas para discutir.
O encontro face a face entre os dois líderes na cúpula da Asean, em Kuala Lumpur, ganha cada vez mais chance de acontecer.
Eles se encontraram brevemente na Assembleia Geral da ONU em setembro, e desde então Washington e Brasília mantêm contato próximo.
Será a primeira reunião oficial entre eles desde a imposição de tarifa de 50% sobre a maioria dos produtos brasileiros pelos EUA em agosto, o que deteriorou as relações bilaterais.
Além das tarifas, o escritório do representante comercial dos EUA (USTR) iniciou em julho investigação contra o Brasil por práticas comerciais supostamente desleais.
A Casa Branca ainda restringiu vistos a autoridades brasileiras e aplicou sanções financeiras ao ministro do STF Alexandre de Moraes e sua esposa, em resposta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Embora o encontro ainda não tenha confirmação oficial, a expectativa é que ocorra no domingo (26/10), durante a cúpula da Asean.
Apesar da possibilidade de reconciliação, os presidentes têm indicado que não deverão ceder em suas posições.
Em 22 de outubro, Trump afirmou que as tarifas impostas sobre o gado importado, como o brasileiro, beneficiam os pecuaristas americanos que estavam em má situação há décadas.
Já Lula, no dia seguinte, defendeu na Indonésia alternativas ao dólar no comércio global, mencionando o Pix e sistema indonésio de pagamentos como facilitadores de intercâmbio entre os países e membros do Brics.
Ele pediu uma nova postura comercial para reduzir dependência externa, sem citar diretamente os EUA.
A defesa por moedas alternativas, reforçada pelo Brasil na cúpula dos Brics em julho, foi apontada por Trump como uma das razões para as tarifas.
Especialistas veem na recente comunicação entre Trump e Lula e no encontro recente entre os chanceleres do Brasil e dos EUA em Washington indicativos de que há espaço para um diálogo pragmático, mesmo com divergências ideológicas.
A reportagem é de Julia Braun, da BBC News Brasil em Londres, e Mariana Schreiber, da BBC News Brasil em Brasília.
Créditos: BBC News Brasil