Trump propõe acordo de paz para Ucrânia, mas Zelenski resiste a pressões
Quando parecia improvável uma solução rápida para a Guerra da Ucrânia, Donald Trump apresentou um acordo de paz elaborado em conjunto por um negociador americano e um russo. A Ucrânia e seus aliados europeus foram informados apenas posteriormente.
A Casa Branca estipulou o prazo até quinta-feira (27) para que o presidente Volodimir Zelenski aceitasse a proposta. Pressões incluíram a sugestão de interromper o fornecimento de armas a Kiev.
Zelenski enfrenta dificuldades internas causadas por um escândalo de corrupção que resultou na queda de ministros, e também na linha de frente, com a Rússia intensificando ataques e ameaçando a defesa do país desde a invasão quase quatro anos atrás.
A fragilidade do governo foi expressa por Zelenski ao dizer que enfrentavam uma “escolha difícil: ou perder a dignidade ou um grande aliado”. Com suporte externo, ele buscou reagir.
No domingo (23), as equipes negociadoras da Ucrânia e dos EUA reuniram-se em Genebra. Dos 28 pontos do plano inicial de Trump, que favoreciam amplamente a Rússia, reduziram-se a 19, com uma proposta mais equilibrada. O Kremlin, entretanto, declarou que não aceitará essas modificações.
O documento inicial propunha perdas territoriais e atendia demandas russas, porém restringia a soberania ucraniana em temas amplos, como limitações às Forças Armadas e a realização de eleições em cem dias, além de proteções específicas, como à Igreja Ortodoxa Russa no país. Essas cláusulas estão sendo revisadas, e o prazo estabelecido dificilmente será cumprido.
Putin não deve conseguir vencer a guerra e subjugar a Ucrânia apoiada pelo Ocidente, ao contrário do que afirmam generais russos; e Zelenski não parece capaz de expulsar os invasores, como desejam líderes europeus.
Assim, serão necessárias concessões, porém Putin não deve ser recompensado pelo uso da força no século XXI. Fica a lembrança do Acordo de Munique de 1938, quando Reino Unido e França cederam territórios ao nazismo, com consequências desastrosas.
O fim da guerra seria uma ótima notícia, especialmente se viesse acompanhado de um cronograma para a retomada das relações Rússia-Ocidente.
Alguns críticos afirmam que Putin busca reconstruir um império, o que pode ser verdade, mas é fato que a expansão da OTAN sobre ex-países do bloco socialista demonstra pouca magnanimidade dos EUA na vitória sobre a União Soviética.
Se as negociações naufragarem, Trump terá dado outro presente a Putin, que mesmo tendo se distanciado da autoria da proposta poderá alegar que o problema não é seu, ganhando tempo para a continuação da guerra.
Créditos: Folha de S.Paulo