Venezuela reage com ironia e silêncio ao Nobel de Paz de María Corina Machado
Um dia após a notícia de que a líder opositora da ditadura de Nicolás Maduro, María Corina Machado, recebeu o Prêmio Nobel da Paz, apenas duas autoridades venezuelanas comentaram o prêmio — e nenhuma delas pertence ao alto escalão do regime.
O embaixador venezuelano na ONU, Samuel Moncada, foi questionado sobre a reação do governo durante uma coletiva em Nova York e respondeu com ironia: “Eu esperava que ela ganhasse o Nobel de Física, porque tem as mesmas credenciais para o Nobel de Física e para o Nobel da Paz. Talvez no próximo ano ela ganhe o Nobel de Física”.
Já Jorge Rodríguez, presidente da Assembleia Nacional e aliado próximo de Maduro, comentou de forma indireta. Em transmissão na TV estatal venezuelana, ele ressaltou: “Somos militantes do partido da paz, cada venezuelano e venezuelana de bem. Militantes do partido de qualquer forma que impeça a violência para resolver assuntos políticos”. Ele acrescentou que é necessário cuidar da paz e da harmonia, o que inclui preservar soberania, solo sagrado e famílias venezuelanas.
Rodríguez fez as declarações cercado de pessoas, muitas crianças com acessórios natalinos. Em meio a uma tensão militar com os Estados Unidos, Maduro antecipou em setembro o início das celebrações do feriado cristão para o dia 1º de outubro — um gesto repetido em crises anteriores, como após eleições contestadas em 2024.
O Itamaraty brasileiro também não se posicionou sobre o prêmio. Fontes do governo apontam que María Corina é vista como líder de ultradireita, com ligações a líderes europeus como Viktor Orbán, Matteo Salvini e Marine Le Pen.
Diversas lideranças venezuelanas celebraram o Nobel da opositora. Juan Guaidó, autodeclarado presidente em 2019, chamou María Corina de símbolo de resistência e esperança, reconhecendo seu sacrifício e pedindo apoio internacional. Henrique Capriles, ex-candidato presidencial e ex-governador, desejou que o prêmio impulse a paz e a recuperação da liberdade e democracia no país.
Donald Trump, a quem María Corina dedicou o prêmio, comentou na sexta-feira à noite que ela aceitou o prêmio em sua homenagem e elogiou sua gentileza, ressaltando que a ajudou durante todo o tempo e que a Venezuela vive um desastre.
A Casa Branca, em contrapartida, criticou o comitê do Nobel, acusando-o de priorizar política sobre a paz. O porta-voz Steven Cheung destacou que Trump tem “o coração de um humanitário”.
Créditos: Folha de S.Paulo