Violência em el-Fasher: relato de sobrevivente e situação em Tawila
Ezzeldin Hassan Musa, abalado e com ferimentos, relata a brutalidade das Forças de Apoio Rápido (RSF) do Sudão após o grupo paramilitar tomar o controle da cidade de el-Fasher, em Darfur.
Segundo ele, os combatentes torturaram e assassinaram homens que tentavam fugir.
Agora em Tawila, cerca de 80 km de el-Fasher, Ezzeldin descansa sob um mirante. Ele é um dos milhares que chegaram a um local relativamente seguro após fugir da violência classificada pela ONU como “horrível”.
Na quarta-feira (29/10), o líder das RSF, general Mohamed Hamdan Dagalo, admitiu “violações” em el-Fasher e anunciou que elas seriam investigadas. No dia seguinte, um alto funcionário da ONU informou que suspeitos foram presos.
Tawila é um dos destinos para aqueles que escaparam das RSF. Ezzeldin conta que saiu de el-Fasher há quatro dias e testemunhou cenas brutais de espancamento e assassinatos.
Ele próprio foi ferido várias vezes e provavelmente seria executado, mas escapou junto com outros.
O grupo se escondeu em um prédio, movendo-se apenas à noite, muitas vezes rastejando para evitar ser visto.
Eles tiveram todos os pertences roubados, incluindo celulares e até sapatos, e passaram três dias sem comer nas ruas.
Moradores de Tawila informam que homens que fugiam tinham grande risco de serem vigiados pelas RSF, que miravam suspeitos de serem soldados.
Cerca de 5.000 pessoas já chegaram a Tawila desde a queda de el-Fasher no domingo (26/10), muitas caminhando por três ou quatro dias para fugir da violência.
Ahmed Ismail Ibrahim, com o corpo enfaixado, também fugiu. Ele teve o olho ferido por artilharia e relata que quatro homens foram assassinados por combatentes das RSF diante dele.
Os sobreviventes tiveram seus celulares revistados antes de serem liberados para fugir ao mato.
Yusra Ibrahim Mohamed, que perdeu o marido soldado da artilharia nos ataques, também deixou a cidade. Ela relata que quem resistisse sofria espancamentos, roubos e até execuções, e que viu corpos nas ruas.
Na clínica administrada pela organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Tawila, o médico Alfadil Dukhan informa que atenderam cerca de 500 pessoas com necessidades médicas urgentes, incluindo idosos, mulheres e crianças.
Muitos feridos já sofreram amputações e estão em sofrimento intenso. O atendimento tenta oferecer suporte e cuidado médico.
Antes de ser tomada pelas RSF, el-Fasher ficou sitiada por 18 meses, com bombardeios e ataques aéreos. A população enfrentou fome devido a bloqueio de suprimentos imposto pelos paramilitares.
Em abril, milhares foram deslocados quando as RSF tomaram o campo de Zamzam, importante local de acolhimento para pessoas fugindo de combates em outras áreas.
Especialistas manifestam preocupação com o número relativamente baixo de pessoas que chegaram a locais como Tawila, estimando que um quarto de milhão ainda está em el-Fasher.
Caroline Bouvoir, da agência Solidarités International, destaca que muitos estão presos entre as cidades, impossibilitados de avançar por sua condição física ou pela insegurança nas estradas, onde milícias atacam os que buscam refúgio.
Para Ezzeldin, embora tenha conseguido escapar, a apreensão persiste por aqueles ainda na estrada. Ele pede proteção às vias públicas para os civis ou envio de ajuda humanitária, pois muitos estão em estado crítico sem conseguir pedir socorro.
Créditos: BBC