Política
12:08

Lula critica aumento de gastos militares e destaca combate à fome na Itália

O presidente Lula (PT), em entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera, afirmou que é “uma vergonha para a humanidade” o crescimento dos gastos militares enquanto milhões enfrentam a fome. Ele está em Roma para participar do Fórum Mundial da Alimentação, organizado pela FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura).

Lula ressaltou que a fome e a pobreza não resultam da escassez, mas sim de escolhas políticas. O Brasil deixou o Mapa da Fome da FAO desde julho, referente à média trienal 2022/2023/2024, período em que o país manteve menos de 2,5% da população sob risco de subnutrição ou falta de acesso alimentar.

“Em 2024, as despesas militares tiveram o maior aumento desde o fim da Guerra Fria, atingindo 2,7 trilhões de dólares, enquanto 673 milhões de pessoas sofrem de fome. Isso permanece como uma vergonha para a humanidade”, declarou o presidente, destacando a contribuição brasileira para uma pequena melhoria.

Mais de 26,5 milhões de brasileiros saíram da condição de grave insegurança alimentar em 2023 e 2024, e o país saiu pela segunda vez do Mapa da Fome da FAO. Por meio da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, lançada durante a presidência do Brasil no G20, Lula defende que outras nações sigam esse exemplo para erradicar a fome globalmente.

O presidente comentou também suas relações com o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que durante a ONU o elogiou como “um homem muito agradável” e mencionou uma “química excelente” entre eles. Lula mencionou dois contatos com Trump, um em Nova York e outro por telefone, e afirmou que as equipes trabalham para promover um encontro presencial.

Lula enfatizou que o Brasil mantém posição clara em defesa da democracia e soberania, e acredita que decisões erradas de Trump basearam-se em informações equivocadas sobre a política e comércio brasileiros. O relacionamento diplomático de 201 anos entre Brasil e EUA pode se fortalecer com esse diálogo.

Sobre o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Lula afirmou que nem ele nem qualquer pessoa podem desviar um tribunal de sua missão legal. Bolsonaro foi condenado a 27 anos e três meses pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) pela ação da trama golpista.

O presidente ressaltou o respeito à Constituição e à independência dos três poderes no Brasil, que também é princípio das maiores democracias. O STF conduziu um processo rigoroso, assegurando direito à defesa e devido processo legal. A tentativa de golpe de Estado e o plano para assassinatos estão documentados e foram reconhecidos pelos envolvidos.

Lula sublinhou que pela primeira vez na história do Brasil um ex-chefe de Estado foi condenado por ação golpista, o que servirá de exemplo contra ataques ao Estado democrático.

Defensor do multilateralismo, Lula afirmou que a crise atual não exige abandono dessa prática, mas sua reformulação para maior justiça e inclusão. Ele propôs reformas no Conselho de Segurança da ONU para incluir países do Sul global, acabar com o direito de veto e fortalecer a ação da organização em questões climáticas e prevenção de conflitos.

Sobre o avanço da extrema direita, Lula destacou a importância da defesa da democracia e da agenda da esquerda, baseada na justiça social e combate às desigualdades. Ele ressaltou também a valorização da renda e acesso a serviços públicos essenciais, visando derrotar ameaças autoritárias.

Na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em 2025, o Brasil apresentará o Tropical Forests Forever Fund, mecanismo para remunerar países que preservam suas florestas. Lula chamou a COP30 de “a COP da verdade”, momento decisivo para a ação climática.

O líder brasileiro lembrou que o compromisso de 2009 dos países ricos de mobilizar 100 bilhões de dólares anuais para apoiar países menos desenvolvidos ainda não foi cumprido, alimentando o negacionismo.

O Brasil foi o primeiro país a comprometer um bilhão de dólares para o fundo climático e definiu metas ambiciosas para reduzir emissões de gases de efeito estufa entre 59% e 67%. Lula destacou a importância de outros países adotarem ações similares para enfrentar a crise climática.

Créditos: UOL Notícias

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